|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RUY CASTRO
Drama no brejo
RIO DE JANEIRO - Aqui-del-rei!
Uma legítima brasileirinha, cidadã
da mata atlântica e com tanto direito à vida quanto eu e você, pede socorro. Na verdade, com muito mais
direito, porque não estamos em risco de extinção. E ela está.
Trata-se da Physalaemus soaresi,
uma perereca de 2 cm de comprimento, que ninguém encontrará
neste planeta exceto na Floresta
Nacional Mario Xavier, em Seropédica (RJ), entre a rodovia Presidente Dutra e a antiga Rio-São Paulo.
De repente, os últimos indivíduos
da espécie se viram bem no caminho dos tratores, escavadeiras e caminhões escalados pelo PAC para
construir o Arco Metropolitano, a
superobra do Estado do Rio.
Não que as pererecas tenham se
colocado ali. Os monstros a motor é
que se meteram pelo seu santuário
e se espantaram ao saber que havia
vida sob seus pneus, rolos e lagartas. Neste momento, graças à administração da floresta, a P. soaresi
goza de relativa proteção, porque
está em período de reprodução -o
chamado "canto nupcial"-, que vai
até fevereiro. Mas e depois?
O Ministério do Meio Ambiente
propõe manter o habitat da perereca isolado do canteiro de obras com
placas de ferro. Mas alguns biólogos já advertiram que o barulho dos
tratores não deixará ninguém sossegado no brejo. E por que o Arco
precisa passar exatamente no meio
da floresta, que tem 4,9 milhões de
metros quadrados?
A vida de uma perereca vale pouco no Brasil. Há tempos, só a dedicação de uma bióloga ajudou a salvar o sapinho Melanophryniscus
moreirae no Parque Nacional do
Itatiaia. Hoje, chamado de "Flamenguinho" (por suas cores vermelha e preta), ele se tornou o símbolo do parque.
Neste momento, para alguns, a
"soaresi" é apenas um estorvo ao
"progresso". Amanhã, pode ajudar
a desentupir as artérias de quem já
pensou assim.
Texto Anterior: Brasília - Fernando Rodrigues: O uso da popularidade Próximo Texto: Marina Silva: Ainda no páreo Índice
|