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São Paulo, quarta-feira, 12 de novembro de 2003

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CLÓVIS ROSSI

Sem tempo para a esperança

BRUXELAS - A saída de Oded Grajew do governo é, até agora, a mais concreta e contundente demonstração de que o medo está vencendo a esperança, ao contrário do que se disse durante a campanha eleitoral e logo após a vitória.
Se há alguém no Brasil que representa a esperança em Luiz Inácio Lula da Silva, fora o próprio Lula, esse alguém chama-se Oded Grajew. Contra vento e maré, passou todas as campanhas eleitorais desde o restabelecimento das eleições diretas para a Presidência tentando convencer amigos e empresários, nem sempre amigos, de que Lula era a esperança, não o demônio.
Em paralelo, nos últimos quatro anos, investiu seu tempo vendendo a esperança (ou ilusão?) de que "outro mundo é possível", o slogan cunhado para o Fórum Social Mundial, por ele idealizado e levado adiante também contra vento e maré.
Instalado no poder, Oded parecia, pelo menos nos primeiros meses, uma criança feliz, convencido de que iria persuadir seus colegas do empresariado a mudar a face social da pátria por meio de colaborações para os programas sociais do governo.
Contabilizava cada uma delas, grande ou pequena, como uma vitória da esperança, um sinal de que "o outro mundo possível" estava esperando na primeira curva.
É claro que nem sob tortura Oded dirá que saiu porque, no poder, pode menos do que acreditava que poderia quando estava na oposição. Mas é imensamente sintomático que o próprio Lula admita que, "com esse negócio de ser governo", não tem tempo "de prosear com os amigos".
Teria tempo, sim, se não estivesse tão ocupado em "prosear" com antigos adversários, em fazer o que recomendam antigos demônios do PT, em acomodar-se a regras seculares de jogo, que estiolam mesmo os mais bem-intencionados.
É toda uma aula sobre a Presidência Lula o fato de que ele não tem mais tempo para "prosear" sobre a esperança.


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