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CLÓVIS ROSSI
Sem tempo para a esperança
BRUXELAS - A saída de Oded Grajew
do governo é, até agora, a mais concreta e contundente demonstração de
que o medo está vencendo a esperança, ao contrário do que se disse durante a campanha eleitoral e logo
após a vitória.
Se há alguém no Brasil que representa a esperança em Luiz Inácio Lula da Silva, fora o próprio Lula, esse
alguém chama-se Oded Grajew. Contra vento e maré, passou todas as
campanhas eleitorais desde o restabelecimento das eleições diretas para
a Presidência tentando convencer
amigos e empresários, nem sempre
amigos, de que Lula era a esperança,
não o demônio.
Em paralelo, nos últimos quatro
anos, investiu seu tempo vendendo a
esperança (ou ilusão?) de que "outro
mundo é possível", o slogan cunhado
para o Fórum Social Mundial, por ele
idealizado e levado adiante também
contra vento e maré.
Instalado no poder, Oded parecia,
pelo menos nos primeiros meses, uma
criança feliz, convencido de que iria
persuadir seus colegas do empresariado a mudar a face social da pátria
por meio de colaborações para os
programas sociais do governo.
Contabilizava cada uma delas,
grande ou pequena, como uma vitória da esperança, um sinal de que "o
outro mundo possível" estava esperando na primeira curva.
É claro que nem sob tortura Oded
dirá que saiu porque, no poder, pode
menos do que acreditava que poderia
quando estava na oposição. Mas é
imensamente sintomático que o próprio Lula admita que, "com esse negócio de ser governo", não tem tempo
"de prosear com os amigos".
Teria tempo, sim, se não estivesse
tão ocupado em "prosear" com antigos adversários, em fazer o que recomendam antigos demônios do PT,
em acomodar-se a regras seculares de
jogo, que estiolam mesmo os mais
bem-intencionados.
É toda uma aula sobre a Presidência Lula o fato de que ele não tem
mais tempo para "prosear" sobre a
esperança.
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