São Paulo, quarta-feira, 12 de novembro de 2003 |
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FERNANDO RODRIGUES O vício da propaganda estatal
BRASÍLIA - Há algo errado em um
país capitalista no qual 7,13% do
mercado de propaganda é dominado
por governos e empresas estatais.
Assim é o Brasil. Um levantamento
em 14 países mostra que a propaganda estatal brasileira supera percentualmente a de Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido e até a de vizinhos como Peru e Uruguai. Há explicações para essa anomalia -brasileira como a jabuticaba, diria Lula.
O Brasil é grande geograficamente,
tem população enorme e há dezenas
de empresas estatais. O dever de informar (sic) obriga esses órgãos oficiais a serem grandes anunciantes.
É um argumento ruim. Há anos a
Caixa Econômica Federal, o Banco
do Brasil e a Petrobras, para citar só
três estatais, fazem apologia na TV
das ações produzidas pelo Palácio do
Planalto. Até outro dia, a CEF falava
na TV sobre o Bolsa-Família.
Outro fato nebuloso por trás do alto
percentual de propaganda estatal no
Brasil é a relação promíscua existente entre algumas agências de publicidade e certos políticos.
O marqueteiro faz a campanha
eleitoral e depois vence (sic) licitações
no governo de seu cliente-político.
Não foram Duda Mendonça (com
Maluf e Lula) nem Nizan Guanaes
(com FHC) que inventaram essa praxe. A mídia é muitas vezes cúmplice.
Parte significativa dos meios de comunicação também se viciou nessa
boca-livre sem fim que são as propagandas estatais -58% do R$ 1,018
bilhão gasto em publicidade pelo governo federal (administração direta e
indireta) em 2002 foi parar nas contas de emissoras de TV.
É difícil precisar se jornais, revistas,
emissoras de rádio e TV no Brasil são
frágeis porque aceitam receber esse
dízimo infinito ou se aceitam recebê-lo porque são frágeis.
Uma coisa é certa: no Planalto, PT e
PSDB são idênticos na prática de se
aproveitarem dessa situação.
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