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CONFIANÇA NA POLÍCIA
Contrato social. Esse produtivo conceito da filosofia política marcou, nos séculos 17 e 18, o pensamento de autores tão diversos
como Thomas Hobbes, John Locke e
Jean-Jacques Rousseau.
Em linhas gerais, o contrato assinala o momento pelo qual o homem
passa de um estado de natureza mais
ou menos anárquico para as sociedades organizadas. A melhor descrição
é a de Hobbes, para quem, no estado
de natureza, a vida humana era "solitária, pobre, dura, brutal e curta".
Pelo contratualismo, o pressuposto de que somos todos seres racionais nos fez, em algum momento do
passado, optar por celebrar uma espécie de pacto e definir governantes e
governados. Estavam criados o Estado, a política e a polícia.
Assim, é altamente preocupante o
resultado da pesquisa Datafolha que
mostra que a maioria dos cidadãos
paulistanos (54%) tem mais receio
do que confiança na polícia. Esse temor -que não é nada injustificado,
diga-se- reflete uma desconfiança
em relação aos próprios fundamentos do Estado.
De positivo há o fato de que a confiança vem aumentando consideravelmente. Em 1997, 74% dos paulistanos mais temiam do que confiavam na polícia e, em 99, o número
caiu para 66%, até chegar aos atuais
54%. Não é possível no entanto comemorar uma pesquisa que constata
que a maioria da população ainda
não confia no corpo de profissionais
criado para defendê-la. Um pessimista veria aí um indício importante
da falência do Estado brasileiro.
Não é preciso, porém, recair nos
excessos nem do otimismo nem do
pessimismo para perceber que a polícia precisa melhorar muito. Não se
trata apenas de promover sua imagem. É preciso, principalmente, que
a instituição repare alguns de seus vícios históricos, como o excesso de
violência, o racismo e o arbítrio.
A tarefa é inadiável. O que está em
jogo é a razão mesma pela qual o homem celebrou o contrato social e decidiu viver em sociedade.
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