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ELIANE CANTANHÊDE
Bipartidarismo
BRASÍLIA - Esse negócio de Lula começar a falar em bipartidarismo é esquisito, até perigoso num país como o
nosso. Dois partidos nos EUA é uma
coisa. No Brasil, outra bem diferente.
O que se vislumbra, nessa hipótese,
é um partido governista e outro de
oposição. Às favas idéias, programas,
visões de mundo. O que interessa é
que o partido no poder tende a atrair
toda a infindável legião de fisiológicos, restando à oposição um punhado de gente que ou discorda do governo ou simplesmente não cabe nele.
Como efeito de longo prazo, teremos (se vingar a possibilidade imaginada por Lula) ou teríamos (caso
contrário) um processo de "mexicanização" ou "paraguaização": a eternização de um partido no poder.
De outro lado, a idéia lançada por
Lula -que corrigiu depois para
"dois ou três" partidos"- seria uma
solução para uma curiosidade da política tupiniquim: a velha coincidência de origem e propósitos e a igualmente velha simpatia entre a esquerda do PSDB e o centro do PT.
Como admitiu Lula, em jantar com
jornalistas que a Folha relata hoje, a
reforma política chegaria a esse mínimo de partidos jogando "pessoas" do
PSDB e do PT umas para o colo das
outras. Talvez, quem sabe, um dia,
essa venha a ser a forma de retomar
um destino comum, ceifado no início
dos anos 80 com a criação do PT, reforçado em 88 com a do PSDB e aprofundado ao longo das disputas eleitorais de 89, 94, 98 e 2002, nas três últimas cara a cara.
FHC ganhou duas vezes, Lula o sucedeu e as coisas têm ares de continuidade. Quando, e se, os dois partidos descobrirem os verdadeiros inimigos comuns, talvez surja esse partido de centro-esquerda de que Lula falou anteontem.
Como fato objetivo: a cúpula do PT
e expressivos líderes do PSDB têm
conversando muito, bem mais do que
a condição de governo e situação
aconselharia. Num dia, discutem governabilidade, no outro, eleição municipal. Logo logo por que não o tal
novo partido? Desde que, claro, sem
essa de bipartidarismo. A direita, onde ficaria? E a esquerda?
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