São Paulo, sexta-feira, 13 de fevereiro de 2004

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MARCELO BERABA

Dez velinhas para o PT do Rio

RIO DE JANEIRO - O PT não poderia ter escolhido lugar melhor para comemorar seus 24 anos do que o Rio. Se quiser, pode fazer dois bolos: um grande, o do aniversário do partido, e um outro menor, com menos glace e apenas dez velinhas, para lembrar o início do processo de esfacelamento do PT fluminense.
Ao longo da última década, as principais lideranças de esquerda do partido no Estado, várias delas referências nacionais e outras com cacife eleitoral, foram atropeladas pelas intervenções da direção nacional.
O partido foi subjugado em 94 (quando foi inviabilizada a candidatura de Vladimir Palmeira ao governo do Estado), em 96 (quando a candidatura de Chico Alencar foi abandonada), em 98 (novo golpe contra Vladimir Palmeira para garantir a candidatura de Garotinho) e em 2000 (imposição da candidatura de Benedita da Silva contra Milton Temer). A própria Bené foi vítima da mão pesada do PT nacional quando foi obrigada a disputar a eleição de 2002.
As seguidas intervenções acabaram por liquidar a frente de esquerda e, conseqüência imprevisível, por desgastar as próprias lideranças moderadas afinadas com os objetivos da direção nacional, como Benedita. Jorge Bittar, candidato à prefeitura da capital, é um sobrevivente. Mas suas chances eleitorais são remotas.
Os outros personagens e seus entornos estão todos combalidos. Uns saíram do partido, outros foram marginalizados, alguns terão de hibernar por um bom tempo.
O que o PT ganhou com isso? É possível, como analisa o ex-deputado Milton Temer, que tenha impedido o fortalecimento de uma frente de esquerda que, mais cedo ou mais tarde, se oporia ao projeto nacional da ala moderada que agora ocupa o Palácio do Planalto.
E porque a escolha do Rio para as festas? Talvez por sentimento de culpa (resquícios da militância católica); talvez, o mais provável, apenas por pragmatismo eleitoral.


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