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Errar acertando
CLÓVIS ROSSI
São Paulo - O Oscar de melhor Forrest Gump da história só pode ir para
o governador Itamar Franco. Pela fenomenal capacidade de ser o personagem certo no lugar errado ou o personagem errado no lugar certo.
Primeiro, Itamar alvejou (erradamente) o acordo de renegociação das
dívidas dos Estado, mas acertou no fato de que a situação de todos os Estados é pré-falimentar.
Não tem nada a ver com o acordo,
mas que é pré-falimentar é.
Agora, Itamar alveja (erradamente)
a retaliação do governo federal e o
consequente suposto colapso dos serviços públicos nos Estados, mas acerta
no "caos social".
Talvez a expressão seja exagerada,
até porque o Brasil vive há tanto tempo em emergência social que, desgraçadamente, ninguém mais parece se
incomodar muito.
O único colchão social criado pelo
Plano Real foi a derrubada da inflação. Esta pode não ter voltado, talvez
nem volte com a força de antes, mas o
fato é que se instaurou uma fortíssima
instabilidade. Logo, o desconforto social só pode crescer, do que dá prova a
sequência de depredações em trens e
estações ferroviárias justamente em
um Estado (São Paulo) cujo governador elogia o acordo da dívida e orgulha-se de ter investido no serviço público que agora está sendo atacado.
Posto de outra forma: não é a retaliação do governo federal nem o suposto colapso dos serviços públicos
que vão gerar caos social, embora o
eventual colapso tenda, inexoravelmente, a agravá-lo.
O que faz aumentar a tensão social é
a volta da instabilidade, até porque
incide sobre chagas abertas desde
tempos imemoriais.
Só falta agora que Itamar Franco
confunda Campos do Jordão, perto de
onde estava ontem o presidente, com
São Petersburgo, a PM mineira com o
exército bolchevique e ordene a tomada do Palácio de Inverno que o governo paulista mantém na cidade.
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