São Paulo, Sábado, 13 de Fevereiro de 1999
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Napoleão de hospício

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - Não deu em nada a reunião do alto comando da PM mineira com Itamar Franco. Também não produziu efeitos práticos o encontro do governador de Minas Gerais com os ministros de seu partido, o PMDB.
O país continuará em situação delicada, instável, pelos próximos meses. Quantos meses? Ninguém sabe.
FHC deu entrevista à jornalista Cristiana Lôbo e exerceu seu já famoso dom de proferir platitudes panglossianas. Eis duas delas:
1) A teoria do pãozinho - "O preço do pão subiu por causa do trigo que é importado, mas isso só pode acontecer uma vez e não pode se repetir todo mês", pontificou o presidente.
Ora, é óbvio que o preço pode subir todo mês. Basta o dólar continuar a ser valorizado. É verdade que ninguém sabe qual será a cotação do dólar nos próximos meses. Mas isso nem o presidente da República sabe.
Aliás, FHC já nos revelou qual é a sua opinião e preocupação sobre a cotação da moeda norte-americana: "Não é problema meu".
Claro, é problema da patuléia frequentadora de padarias. Os pãezinhos consumidos por FHC estão incluídos nos "fringe benefits" do Alvorada.
2) A duração da crise - "Até abril, o tempo estará assim meio nebuloso, mas com possibilidade de aterrissagem". Acostumado a editar MPs, o presidente resolveu promulgar o fim da crise. Em maio haverá céu de brigadeiro. Por decreto.
Há informações seguras de que FHC não faz essas previsões otimistas apenas em público. Em conversas reservadas, também fica dizendo frases do tipo "logo vamos sair dessa", sem dar elementos concretos para que o interlocutor acredite no vaticínio.
É claro que o ofício de um governante inclui, às vezes, a função de animador da sociedade. Precisa classificar crises como distúrbios passageiros.
Não ficaria bem FHC aparecer todo dia na TV exalando pessimismo. O único problema é saber o momento certo para mudar o discurso. Parar de fazer previsões sem nenhum fundamento prático. Caso contrário, perde a imagem de governante. E fica apenas com a de Napoleão de hospício.
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