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Napoleão de hospício
FERNANDO RODRIGUES
Brasília - Não deu em nada a reunião do alto comando da PM mineira
com Itamar Franco. Também não
produziu efeitos práticos o encontro
do governador de Minas Gerais com
os ministros de seu partido, o PMDB.
O país continuará em situação delicada, instável, pelos próximos meses.
Quantos meses? Ninguém sabe.
FHC deu entrevista à jornalista Cristiana Lôbo e exerceu seu já famoso
dom de proferir platitudes panglossianas. Eis duas delas:
1) A teoria do pãozinho - "O preço
do pão subiu por causa do trigo que é
importado, mas isso só pode acontecer
uma vez e não pode se repetir todo
mês", pontificou o presidente.
Ora, é óbvio que o preço pode subir
todo mês. Basta o dólar continuar a
ser valorizado. É verdade que ninguém sabe qual será a cotação do dólar nos próximos meses. Mas isso nem
o presidente da República sabe.
Aliás, FHC já nos revelou qual é a
sua opinião e preocupação sobre a cotação da moeda norte-americana:
"Não é problema meu".
Claro, é problema da patuléia frequentadora de padarias. Os pãezinhos
consumidos por FHC estão incluídos
nos "fringe benefits" do Alvorada.
2) A duração da crise - "Até abril, o
tempo estará assim meio nebuloso,
mas com possibilidade de aterrissagem". Acostumado a editar MPs, o
presidente resolveu promulgar o fim
da crise. Em maio haverá céu de brigadeiro. Por decreto.
Há informações seguras de que FHC
não faz essas previsões otimistas apenas em público. Em conversas reservadas, também fica dizendo frases do tipo "logo vamos sair dessa", sem dar
elementos concretos para que o interlocutor acredite no vaticínio.
É claro que o ofício de um governante inclui, às vezes, a função de animador da sociedade. Precisa classificar
crises como distúrbios passageiros.
Não ficaria bem FHC aparecer todo
dia na TV exalando pessimismo. O
único problema é saber o momento
certo para mudar o discurso. Parar de
fazer previsões sem nenhum fundamento prático. Caso contrário, perde a
imagem de governante. E fica apenas
com a de Napoleão de hospício.
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