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São Paulo, quinta-feira, 13 de março de 2003

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ELIANE CANTANHÊDE

Fome e vontade de comer

BRASÍLIA - Os dias no governo do ministro José Graziano, do Fome Zero, estão contados?
Aparentemente, sim. Porque há petista discutindo até nomes de substitutos. E -pasme!- o mais cotado não é de nenhum deles. Quer dizer, de nenhum petista. Muito pelo contrário. É o de Abílio Diniz.
Poderoso da cadeia Pão de Açúcar, Diniz acaba de se afastar da gerência direta dos negócios e está aí, cheio de experiência para dar. Principalmente de distribuição de alimentos, uma das chaves do Fome Zero.
A alternativa Graziano versus Diniz (ou alguém com o perfil de Diniz) é exatamente a alternativa entre o afetivo e o pragmático. Lembremos que Lula é muito afetivo em essência, mas tem procurado ser pragmático como presidente.
Graziano é um belo sujeito, velho petista, ligado a Lula, com perfil intelectual e cheio de boas idéias e boas intenções. À sua imagem e semelhança, o Fome Zero -menina dos olhos de Lula- se transformou num amontoado de belos projetos isolados que não configuram um todo.
Em defesa dele, são só 70 dias. Até agora, ninguém sabe de conta para depósito, não há onde estocar, quem quiser enviar pequenas quantias do exterior não tem como. O símbolo da falta de praticidade: os R$ 50 mil da Gisele Bündchen, tão badalados, nunca passaram de gorjeta não depositada. Ou seja, de não-gorjeta.
Ao contrário, Diniz é um homem sobretudo prático e de um mundo hiperprático, capaz de desenhar rapidamente um projeto sistematizado, com cronologia: com início, meio e fim, aproveitando recursos, cadastros e equipes existentes. E, como homem do capital, é ótimo ímã para atrair verbas para a empreitada.
Agora, é saber se Lula topa mesmo a mudança e prever como reagiriam não só Heloísa Helena, Luciana Genro e Babá, mas aquela boa parte de petistas que considera a cota capitalista já esgotada com Meirelles, Furlan e Roberto Rodrigues.
A questão, portanto, é entre coração e mente, entre criador e criatura. Com a palavra, Lula.


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