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ELIANE CANTANHÊDE
Fome e vontade de comer
BRASÍLIA - Os dias no governo do ministro José Graziano, do Fome Zero, estão contados?
Aparentemente, sim. Porque há petista discutindo até nomes de substitutos. E -pasme!- o mais cotado
não é de nenhum deles. Quer dizer,
de nenhum petista. Muito pelo contrário. É o de Abílio Diniz.
Poderoso da cadeia Pão de Açúcar,
Diniz acaba de se afastar da gerência
direta dos negócios e está aí, cheio de
experiência para dar. Principalmente de distribuição de alimentos, uma
das chaves do Fome Zero.
A alternativa Graziano versus Diniz (ou alguém com o perfil de Diniz)
é exatamente a alternativa entre o
afetivo e o pragmático. Lembremos
que Lula é muito afetivo em essência,
mas tem procurado ser pragmático
como presidente.
Graziano é um belo sujeito, velho
petista, ligado a Lula, com perfil intelectual e cheio de boas idéias e boas
intenções. À sua imagem e semelhança, o Fome Zero -menina dos olhos
de Lula- se transformou num
amontoado de belos projetos isolados
que não configuram um todo.
Em defesa dele, são só 70 dias. Até
agora, ninguém sabe de conta para
depósito, não há onde estocar, quem
quiser enviar pequenas quantias do
exterior não tem como. O símbolo da
falta de praticidade: os R$ 50 mil da
Gisele Bündchen, tão badalados,
nunca passaram de gorjeta não depositada. Ou seja, de não-gorjeta.
Ao contrário, Diniz é um homem
sobretudo prático e de um mundo hiperprático, capaz de desenhar rapidamente um projeto sistematizado,
com cronologia: com início, meio e
fim, aproveitando recursos, cadastros
e equipes existentes. E, como homem
do capital, é ótimo ímã para atrair
verbas para a empreitada.
Agora, é saber se Lula topa mesmo
a mudança e prever como reagiriam
não só Heloísa Helena, Luciana Genro e Babá, mas aquela boa parte de
petistas que considera a cota capitalista já esgotada com Meirelles, Furlan e Roberto Rodrigues.
A questão, portanto, é entre coração e mente, entre criador e criatura.
Com a palavra, Lula.
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