São Paulo, quinta-feira, 13 de junho de 2002

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RECONSTRUÇÃO TUTELADA

Depois de 23 anos de conflito, o Afeganistão realiza a sua Loya Jirga, a tradicional assembléia das tribos, que deverá definir o futuro político do país. A simples convocação da Loya Jirga já representa um grande e significativo avanço.
Até meados do ano passado, o Afeganistão ainda se encontrava sob a ditadura dos fanáticos do Taleban. Era proibido barbear-se e ouvir música no país. A TV fora proscrita. Mulheres, que hoje participam da Loya Jirga, ainda que em posição de inferioridade, eram impedidas de estudar e até de conversar com um médico. Não podiam nem mesmo exibir os seus rostos em público.
Essa melhora nas condições políticas e sociais está longe de significar que todas as dificuldades foram superadas. Ontem mesmo, entre 60 e 70 dos 1.550 delegados se retiraram da assembléia denunciando-a como uma farsa. Queixaram-se de não ter real direito a voto e acusaram a manipulação norte-americana.
Ao que tudo indica, Hamid Karzai, o atual líder interino do governo afegão e candidato preferido dos EUA à Presidência do país, sairá vitorioso. Ele conseguiu neutralizar outros postulantes, bem como os que desejavam um papel de destaque para o ex-rei, Mohammed Zahir Shah. Curiosamente, foi o enviado norte-americano quem anunciou que Shah não participaria do governo, o que provocou revolta entre alguns delegados.
Washington, evidentemente, nega estar manipulando a formação do futuro governo, mas os EUA lideram uma força internacional de 12 mil soldados no país. Seria ingenuidade imaginar que um contingente de homens dessa proporção estacionado num país em que as rivalidades tribais são profundas não exerça influência sobre as forças políticas representadas na Loya Jirga.
Pelo menos no Afeganistão, a afirmação do megaespeculador George Soros, segundo o qual quem realmente decide as coisas no mundo de hoje são os EUA, a "Roma moderna", assume uma crueza chocante.


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