São Paulo, quinta-feira, 13 de junho de 2002

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ELIANE CANTANHÊDE

O candidato de direita

BRASÍLIA - Um é candidato do governo, os outros três são de oposição, e todos eles se apresentam como legítimos representantes da esquerda. E a direita, onde fica nessa?
Simples. A direita está em toda parte, acomoda-se nos desvãos das campanhas e está pronta para descer à sala de estar no futuro governo. O PPB e a direita do PMDB estão com Serra, o PTB fechou com Ciro, o PL negocia com Lula, as igrejas tendem para Garotinho e o PFL está entre Ciro e Serra.
Com todos os candidatos espremidos num discurso bem parecido, que reconhece a globalização, preconiza a negociação com organismos internacionais, admite o pagamento das dívidas interna e externa, fica difícil identificar quem é quem.
Mas Ciro Gomes só terá chance como o candidato de direita da política nacional, apesar de, curiosamente, ser filiado ao PPS (antigo Partido Comunista Brasileiro) e apoiado pela Frente Trabalhista (PDT e PTB), em tese, de esquerda.
Senão, vejamos: Lula pode se aliar com quem quiser e fazer o discurso de ocasião, mas sempre será de esquerda. Garotinho pode até ser considerado um populista de direita, mas a simpatia das classes "C" "D" e "E" não foi suficiente para conquistar a confiança da direita. Serra tem apoio dos bancos e da elite econômica, mas seu passado, sua visão nacional e seus próprios cacoetes não dissimulam o viés de esquerda. Sobra Ciro, que precisa da direita anti-governo.
O PFL, por exemplo, tem dado seguidos passos rumo a Ciro, apesar de Serra dizer a empresários que já tem 70% do partido. Num jantar anteontem, em Brasília, Ciro e Jorge Bornhausen fecharam um apoio para a candidatura do pefelista Roberto Brant em Minas. O que é um chamariz para novas seções do PFL caírem nos braços de Ciro.
Nem Serra, nem Garotinho, nem mesmo Lula vão poder dizer um "a" contra a aproximação e a aliança. Porque, nesta eleição, todos disputam freneticamente a direita. Quem pode atirar a primeira pedra?



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