|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
INDUÇÃO CIENTÍFICA
No imaginário popular,
grandes descobertas científicas são o resultado do trabalho dedicado de gênios algo excêntricos, que
permanecem meses, às vezes anos,
isolados em ermos laboratórios. A
caricatura guarda poucos traços de
realidade. No mundo contemporâneo, alguém que não esteja em estreita comunicação com a comunidade científica dificilmente poderá
ser qualificado de cientista.
Para começar, desenvolvimentos
tecnológicos relevantes costumam
exigir investimentos em pesquisa
que estão além das posses de cientistas individualmente. Além disso, por
maior que seja a concorrência entre
grupos rivais, a ciência segue sendo
uma obra coletiva, cuja matéria-prima é a troca de informações.
Se, para um professor Pardal ou
um Thomas Edison, agências de fomento teriam parecido uma excentricidade, no mundo real de hoje elas
são inevitáveis, especialmente para
países em desenvolvimento como o
Brasil, onde os recursos materiais e
humanos são muito mais limitados
do que no Primeiro Mundo.
Um exemplo de como a intervenção de agências pode trazer resultados positivos é o projeto Biota, da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). Trata-se
de um empreendimento de levantamento sistemático da biodiversidade
e de bioprospecção, em que cientistas procuram identificar organismos
de potencial farmacêutico. A Fapesp,
além de financiar os pesquisadores,
desempenhou papel indutor, colocando todos os participantes em rede e uniformizando procedimentos.
Criado em 1999, o Biota já produziu
resultados, incluindo a identificação
de organismos úteis. Como a Folha
mostrou na edição de ontem, dois
potenciais medicamentos já permitem pensar em patentes: um novo
antibiótico e um antimalárico.
O papel indutor de agências como
a Fapesp não deve ser menosprezado. Com um pouco de inteligência e
de recursos, tem sido possível colocar, ainda que discretamente, o Brasil no mapa da produção científica
mundial. Não é pouco.
Texto Anterior: Editoriais: ELEIÇÃO SECUNDÁRIA Próximo Texto: São Paulo - Clóvis Rossi: Bem-vindo, Paul, mas é tarde Índice
|