São Paulo, terça-feira, 13 de agosto de 2002

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CLÓVIS ROSSI

Bem-vindo, Paul, mas é tarde

SÃO PAULO - Paul Krugman transformou-se na estrela do pensamento econômico planetário. Tem todas as vantagens: fala e pensa em inglês, o idioma dominante, leciona na Universidade de Princeton, uma das principais grifes acadêmicas do planeta, e ainda por cima tem uma coluna no jornal "The New York Times", padrão de excelência.
Pois foi essa figura emblemática que escreveu, conforme a transcrição publicada no sábado pela Folha:
"Dez anos atrás, Washington garantiu aos países latino-americanos que, se eles se abrissem para bens e capitais estrangeiros e se privatizassem as estatais, viveriam um grande crescimento econômico. Mas isso não aconteceu. A Argentina está uma catástrofe. México e Brasil eram, até alguns meses atrás, vistos como histórias que deram certo, mas a renda per capita hoje nos dois países está apenas um pouquinho acima do que era em 1980. E, como a desigualdade se agravou muito, a maioria das pessoas provavelmente está em pior situação do que há 20 anos. Podemos nos surpreender pelo fato de a população estar farta de ainda mais chamados por austeridade?".
Krugman confessa que ele também acreditou no tal Consenso de Washington, o que codificou o receituário dito neoliberal. Mas, acrescenta, "agora (...) é hora de avaliar minhas crenças no mercado".
Bem-vindo ao clube, Paul. Você não imagina como foi dura a travessia do deserto para os poucos que nunca caímos no conto do Consenso de Washington.
Os perfeitos idiotas neoliberais, que abundam ao sul do Rio Grande, só faziam repetir slogans importados e rotular de neobobos os que ousavam dizer "o rei está nu".
É bom, pois, contar com alguém que veste a grife Princeton para dizer o que dizíamos apenas com a cara e a coragem. Mas é tarde, Paul. As políticas recomendadas por Washington criaram um campo minado do qual só se sairá com sangue e dor.


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