|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLÓVIS ROSSI
Bem-vindo, Paul, mas é tarde
SÃO PAULO - Paul Krugman transformou-se na estrela do pensamento
econômico planetário. Tem todas as
vantagens: fala e pensa em inglês, o
idioma dominante, leciona na Universidade de Princeton, uma das
principais grifes acadêmicas do planeta, e ainda por cima tem uma coluna no jornal "The New York Times",
padrão de excelência.
Pois foi essa figura emblemática
que escreveu, conforme a transcrição
publicada no sábado pela Folha:
"Dez anos atrás, Washington garantiu aos países latino-americanos
que, se eles se abrissem para bens e
capitais estrangeiros e se privatizassem as estatais, viveriam um grande
crescimento econômico. Mas isso não
aconteceu. A Argentina está uma catástrofe. México e Brasil eram, até alguns meses atrás, vistos como histórias que deram certo, mas a renda
per capita hoje nos dois países está
apenas um pouquinho acima do que
era em 1980. E, como a desigualdade
se agravou muito, a maioria das pessoas provavelmente está em pior situação do que há 20 anos. Podemos
nos surpreender pelo fato de a população estar farta de ainda mais chamados por austeridade?".
Krugman confessa que ele também
acreditou no tal Consenso de Washington, o que codificou o receituário
dito neoliberal. Mas, acrescenta,
"agora (...) é hora de avaliar minhas
crenças no mercado".
Bem-vindo ao clube, Paul. Você
não imagina como foi dura a travessia do deserto para os poucos que
nunca caímos no conto do Consenso
de Washington.
Os perfeitos idiotas neoliberais, que
abundam ao sul do Rio Grande, só
faziam repetir slogans importados e
rotular de neobobos os que ousavam
dizer "o rei está nu".
É bom, pois, contar com alguém
que veste a grife Princeton para dizer
o que dizíamos apenas com a cara e a
coragem. Mas é tarde, Paul. As políticas recomendadas por Washington
criaram um campo minado do qual
só se sairá com sangue e dor.
Texto Anterior: Editoriais: INDUÇÃO CIENTÍFICA Próximo Texto: São Paulo - Eliane Cantanhêde: O trem e o maquinista Índice
|