São Paulo, terça-feira, 13 de agosto de 2002

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CARLOS HEITOR CONY

O preço do pavão

RIO DE JANEIRO - Recebo do leitor Rubens Ferreira da Rocha (rfr@claretianas.com.br), de Rio Claro, SP, um e-mail comentando crônica que publiquei na semana passada sob o título "Triste balanço". Diz o leitor:
"Há muitos anos, eu trabalhava na esquina da av. Rio Branco com o largo da Carioca. Pela janela, via uma agência da fatídica Coroa-Brastel. Todos os que conhecia aplicavam suas sobras lá e, não poucas vezes, fiquei tentado a descer e a largar lá minhas ínfimas economias. O que me impedia era a pergunta: como é possível pagar juros mais altos que os de mercado? É muito simples. Só seria possível o milagre se a entrada de dinheiro fosse sempre muito, muito mesmo, maior que a saída. No dia em que parasse de entrar dinheiro, ou em que alguma coisa abalasse a credibilidade da coisa, estariam quebrados E foi o que aconteceu.
O Plano Real foi uma cópia em grande escala dessa aventura. Com ou sem paridade cambial, o negócio não se sustentaria. Lembro-me de que, na implantação do Plano Real, o governo dizia que tinha US$ 40 bilhões para suportar o plano. Está aí a confissão. Foram-se os bilhões, foram necessários novos empréstimos e mais outros. Tudo isso para possibilitar a eleição de um pavão e, depois, o seu segundo mandato. O plano deveria ter terminado muito antes. A diferença entre a Coroa-Brastel e o Real é que os que perderam dinheiro no primeiro caso perderam voluntariamente".
Não sei se os dados do leitor conferem. Não acompanhei em detalhes o caso da Coroa-Brastel, mas o do Real aí está, na cara de todos nós. Deu uma estancada na inflação a um custo que ainda não podemos calcular.
A maior -e única- obra dos oito anos do atual governo foi o combate à inflação. Ao contrário das obras que ficam, como as de Rodrigues Alves, de Vargas e de JK, a obra de FHC foi efêmera, diluiu-se durante o segundo mandato e deixará uma herança negativa que continuaremos pagando.



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