|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CARLOS HEITOR CONY
O preço do pavão
RIO DE JANEIRO - Recebo do leitor Rubens Ferreira da Rocha (rfr@claretianas.com.br), de Rio Claro, SP, um e-mail comentando crônica que
publiquei na semana passada sob o
título "Triste balanço". Diz o leitor:
"Há muitos anos, eu trabalhava na
esquina da av. Rio Branco com o largo da Carioca. Pela janela, via uma
agência da fatídica Coroa-Brastel.
Todos os que conhecia aplicavam
suas sobras lá e, não poucas vezes, fiquei tentado a descer e a largar lá minhas ínfimas economias. O que me
impedia era a pergunta: como é possível pagar juros mais altos que os de
mercado? É muito simples. Só seria
possível o milagre se a entrada de dinheiro fosse sempre muito, muito
mesmo, maior que a saída. No dia
em que parasse de entrar dinheiro,
ou em que alguma coisa abalasse a
credibilidade da coisa, estariam quebrados E foi o que aconteceu.
O Plano Real foi uma cópia em
grande escala dessa aventura. Com
ou sem paridade cambial, o negócio
não se sustentaria. Lembro-me de
que, na implantação do Plano Real, o
governo dizia que tinha US$ 40 bilhões para suportar o plano. Está aí a
confissão. Foram-se os bilhões, foram
necessários novos empréstimos e
mais outros. Tudo isso para possibilitar a eleição de um pavão e, depois, o
seu segundo mandato. O plano deveria ter terminado muito antes. A diferença entre a Coroa-Brastel e o Real é
que os que perderam dinheiro no primeiro caso perderam voluntariamente".
Não sei se os dados do leitor conferem. Não acompanhei em detalhes o
caso da Coroa-Brastel, mas o do Real
aí está, na cara de todos nós. Deu
uma estancada na inflação a um custo que ainda não podemos calcular.
A maior -e única- obra dos oito
anos do atual governo foi o combate
à inflação. Ao contrário das obras
que ficam, como as de Rodrigues Alves, de Vargas e de JK, a obra de FHC
foi efêmera, diluiu-se durante o segundo mandato e deixará uma herança negativa que continuaremos
pagando.
Texto Anterior: São Paulo - Eliane Cantanhêde: O trem e o maquinista Próximo Texto: Marta Salomon: Vem aí a taxa de alienação Índice
|