São Paulo, sexta-feira, 13 de setembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CLÓVIS ROSSI

O fracasso mais redondo

SÃO PAULO - Quando Fernandinho Beira-Mar foi preso na Colômbia, em abril do ano passado, o presidente Fernando Henrique Cardoso estava em Québec (Canadá) participando da Cúpula das Américas.
Mais precisamente, dava entrevista sobre os resultados da Cúpula quando foi interrompido por Andrés Pastrana, então presidente da Colômbia, exatamente para anunciar a prisão de Beira-Mar.
Já me pareceu absurdo, naquele momento, o fato de dois presidentes se rebaixarem ao papel de chefe de polícia, tratando como assunto de Estado o que deveria ser apenas um evento policial.
Agora, um ano e meio depois, mais absurdo ainda parece o festejo que ambos fizeram a propósito da prisão. FHC chegou a dizer que a prisão de Beira-Mar permitiria desmontar ligações do narcotráfico.
O que se vê, ao contrário, é que a prisão só forneceu facilidades ao traficante, que não tem custos para comer e dormir, mas mantém inalteradas as suas fontes de renda -para não falar de seus métodos.
É mais um retrato, se necessário fosse, do mais rotundo fracasso do governo FHC, que colocou segurança em um dos dedos da mão espalmada para simbolizar suas prioridades e só entregou insegurança em grau paroxístico (ele e os governadores de Estados como São Paulo e Rio, nos quais a violência escapou do controle, o que inclui Anthony Garotinho).
Chega a ser patética a incapacidade do governo de agir nessa área. Limita-se a anunciar planos após planos que jamais se materializam.
Na Espanha, país em que a violência é comparativamente muito baixa, o governo soltou ontem um pacote que prevê aumentar os quadros policiais, até 2004, em 20 mil pessoas, julgamentos rápidos em 15 dias, criação de 53 varas criminais adicionais, com a correlata contratação de 80 juizes e 70 promotores.
O único momento em que FHC parece ter razão é ao dizer, agora, que governar o Brasil é difícil. Difícil demais.



Texto Anterior: Editoriais: COSMÉTICA MERCANTIL

Próximo Texto: Brasília - Eliane Cantanhêde: O sorriso de JK
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.