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CLÓVIS ROSSI
Discurso tamanho único
SÃO PAULO - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não só irá a Porto
Alegre e também a Davos como pretende fazer o mesmo discurso em cada um dos dois fóruns, o social, na capital gaúcha, e o econômico, nos Alpes suíços.
Claro que haverá mudanças de forma, para adaptá-la a cada contexto,
mas não de conteúdo, se Lula mantiver a intenção original.
É possível servir a dois senhores ou
agradar a dois públicos supostamente antagônicos com o mesmo discurso? A resposta teria que ser um redondo não, se valessem a lenda que a
esquerda criou em torno de Davos e
as bobagens ditas por muita gente
que jamais passou perto do fórum
suíço, mas mesmo assim se acha autorizada a decretar o que é e o que
não é o encontro.
Lendas e bobagens à parte, ainda
assim Lula terá que caminhar no fio
da navalha para ser aplaudido sinceramente tanto em Porto Alegre como
em Davos. A diferença principal entre os dois fóruns remete, de certa
maneira, à discussão entre reforma e
revolução que ocupou a esquerda
durante boa parte do século passado.
No caso, o eixo é a globalização.
Para o povo de Porto Alegre, é preciso jogar fora o modelo atual e reconstruir a globalização com outro
conteúdo. Para a gente de Davos, é
uma mera questão de humanizar a
globalização para que todos sejamos
felizes para sempre.
A linguagem do PT, até que a vitória eleitoral apareceu no horizonte,
era a linguagem de Porto Alegre. De
lá para cá, está bem mais perto da de
Davos. Falta agora demonstrar como é possível humanizar a globalização de forma a fazê-la produzir a felicidade nacional bruta.
Na retórica, é o que Lula fará na semana que vem. Na prática, ainda está por se ver.
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