São Paulo, terça-feira, 14 de janeiro de 2003

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CLÓVIS ROSSI

Discurso tamanho único

SÃO PAULO - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não só irá a Porto Alegre e também a Davos como pretende fazer o mesmo discurso em cada um dos dois fóruns, o social, na capital gaúcha, e o econômico, nos Alpes suíços.
Claro que haverá mudanças de forma, para adaptá-la a cada contexto, mas não de conteúdo, se Lula mantiver a intenção original.
É possível servir a dois senhores ou agradar a dois públicos supostamente antagônicos com o mesmo discurso? A resposta teria que ser um redondo não, se valessem a lenda que a esquerda criou em torno de Davos e as bobagens ditas por muita gente que jamais passou perto do fórum suíço, mas mesmo assim se acha autorizada a decretar o que é e o que não é o encontro.
Lendas e bobagens à parte, ainda assim Lula terá que caminhar no fio da navalha para ser aplaudido sinceramente tanto em Porto Alegre como em Davos. A diferença principal entre os dois fóruns remete, de certa maneira, à discussão entre reforma e revolução que ocupou a esquerda durante boa parte do século passado. No caso, o eixo é a globalização.
Para o povo de Porto Alegre, é preciso jogar fora o modelo atual e reconstruir a globalização com outro conteúdo. Para a gente de Davos, é uma mera questão de humanizar a globalização para que todos sejamos felizes para sempre.
A linguagem do PT, até que a vitória eleitoral apareceu no horizonte, era a linguagem de Porto Alegre. De lá para cá, está bem mais perto da de Davos. Falta agora demonstrar como é possível humanizar a globalização de forma a fazê-la produzir a felicidade nacional bruta.
Na retórica, é o que Lula fará na semana que vem. Na prática, ainda está por se ver.


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