São Paulo, sábado, 14 de janeiro de 2006

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ROGÉRIO GENTILE

A volta dos mortos-vivos

SÃO PAULO - Paulo Maluf avisou a aliados -sim, eles ainda existem- que disputará a eleição de outubro. Quer concorrer à sucessão do governador Geraldo Alckmin.
A candidatura de um homem recém-saído da prisão soa absurda e inverossímil, mas tem a lógica possível de um país no qual o presidente da República se diz ao mesmo tempo traído por companheiros e vítima do golpismo da oposição.
Maluf disse a correligionários que a cadeia provocou o estranho efeito de vitimizá-lo. Considera que, em meio às vaias com as quais já se acostumou, ouve agora mais aplausos do que antes da temporada na prisão.
Por tudo que fez, o ex-prefeito deveria estar há muito tempo esquecido. Sobrevive porque, diferentemente do que se diz, não representa o que de pior existe na política brasileira.
Maluf, que me perdoem Jefferson Péres e outras exceções, é o resumo da própria política brasileira. É o seu retrato. Suas ressurreições se dão pelo fato de que as pessoas estão cada vez mais sem base para comparação.
O PT não era o partido da ética? O agrupamento que, com razão, se indignou com a compra de votos da reeleição? Não era a legenda que economizaria milhões combatendo a corrupção? Pois é, sabemos agora, os escrúpulos do PT do "mensalão" não são diferentes dos de Maluf.
Evidentemente, por vários motivos, as chances do ex-prefeito são muito reduzidas, mas sua candidatura ainda tem, após esses anos todos, potencial para tumultuar uma disputa marcada por indefinições.
De um lado, o próprio PT, combalido pela crise, com Marta Suplicy ou Mercadante. Do outro, o PSDB e os seus pré-candidatos nanicos que precisam esperar o final do embate federal entre Serra e Alckmin -quem perder indica o nome ao governo.
No paralelo, mas liderando as pesquisas, um outro morto-vivo, também redimido pela desconfiança generalizada sobre os políticos: Orestes Quércia. Isso tudo no Estado que se considera a linha de frente do país.


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