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ROGÉRIO GENTILE
A volta dos mortos-vivos
SÃO PAULO - Paulo Maluf avisou a aliados -sim, eles ainda existem-
que disputará a eleição de outubro.
Quer concorrer à sucessão do governador Geraldo Alckmin.
A candidatura de um homem recém-saído da prisão soa absurda e
inverossímil, mas tem a lógica possível de um país no qual o presidente
da República se diz ao mesmo tempo
traído por companheiros e vítima do
golpismo da oposição.
Maluf disse a correligionários que a
cadeia provocou o estranho efeito de
vitimizá-lo. Considera que, em meio
às vaias com as quais já se acostumou, ouve agora mais aplausos do
que antes da temporada na prisão.
Por tudo que fez, o ex-prefeito deveria estar há muito tempo esquecido.
Sobrevive porque, diferentemente do
que se diz, não representa o que de
pior existe na política brasileira.
Maluf, que me perdoem Jefferson
Péres e outras exceções, é o resumo da
própria política brasileira. É o seu retrato. Suas ressurreições se dão pelo
fato de que as pessoas estão cada vez
mais sem base para comparação.
O PT não era o partido da ética? O
agrupamento que, com razão, se indignou com a compra de votos da
reeleição? Não era a legenda que economizaria milhões combatendo a
corrupção? Pois é, sabemos agora, os
escrúpulos do PT do "mensalão" não
são diferentes dos de Maluf.
Evidentemente, por vários motivos,
as chances do ex-prefeito são muito
reduzidas, mas sua candidatura ainda tem, após esses anos todos, potencial para tumultuar uma disputa
marcada por indefinições.
De um lado, o próprio PT, combalido pela crise, com Marta Suplicy ou
Mercadante. Do outro, o PSDB e os
seus pré-candidatos nanicos que precisam esperar o final do embate federal entre Serra e Alckmin -quem
perder indica o nome ao governo.
No paralelo, mas liderando as pesquisas, um outro morto-vivo, também redimido pela desconfiança generalizada sobre os políticos: Orestes
Quércia. Isso tudo no Estado que se
considera a linha de frente do país.
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