UOL




São Paulo, sexta-feira, 14 de março de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CLÓVIS ROSSI

Entre Rhodes e Comparato

SÃO PAULO - Escrevi outro dia, neste espaço, que o governo Luiz Inácio Lula da Silva estava conseguindo deixar a esquerda perplexa e a direita deliciada.
Bom, passados mais alguns dias, a perplexidade da esquerda vai se transformando em indignação e o encantamento da direita vai se aproximando do orgasmo.
É só conferir duas frases publicadas ontem a respeito do governo:
Frase 1, dita pelo jurista Fábio Konder Comparato, historicamente identificado com causas e bandeiras que o PT defendia:
"A Previdência está endividando a nação, então precisamos não consertar as falhas da Previdência, não reconhecer a todos esse direito sagrado, mas simplesmente equilibrar as finanças públicas. Isso já não é mais pôr o carro adiante dos bois, é pôr o banqueiro e o capital adiante das pessoas" (em entrevista à revista "Caros Amigos").
Frase número 2, do banqueiro William Rhodes, todo-poderoso vice-presidente do Citibank:
"O Citibank e todos os mercados internacionais estão muito impressionados com o trabalho do governo atual na economia".
É bom acrescentar que os mercados estão "bem" impressionados, não apenas impressionados.
Pois é. Está chegando a hora, inevitável, em que o Lulinha paz e amor, que fez a campanha eleitoral e, com esse jeitinho, ganhou a eleição, terá de escolher entre a paz e o amor dos Comparatos e a paz e o amor dos Rhodes.
É ilusório supor que seja possível servir a dois patrões ao mesmo tempo e indefinidamente.
Só espero que Lula não faça como Napoleão e pergunte quantos talões de cheque tem Rhodes e quantos tem Comparato. Há valores que não cabem em uma conta bancária nem entram no cálculo do risco-país. Mas são os mais importantes.


Texto Anterior: Editoriais: SEM ACORDO

Próximo Texto: Brasília - Eliane Cantanhêde: Não-me-toques
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.