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São Paulo, sexta-feira, 14 de março de 2003

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ELIANE CANTANHÊDE

Não-me-toques

BRASÍLIA - Todas as instituições podem sofrer suspeitas, ser criticadas e investigadas. Mas, aparentemente, esse não é o caso do Exército brasileiro, acima do bem e do mal.
Pelo menos é o que se deduz de uma confusão danada, ontem em Brasília, por causa de uma reportagem de TV em que o secretário nacional de Segurança Pública, Luiz Eduardo Soares, falava do combate ao crime organizado.
Terminada a sonora dele, os locutores acrescentaram, "off" (sem atribuir a informação diretamente a ninguém), que as investigações de corrupção seriam, por exemplo, nas polícias Civil, Militar e Rodoviária, assim como nas Forças Armadas.
Pronto. Deus-nos-acuda. A reportagem foi ao ar na noite de quarta e virou um escândalo na manhã de ontem, quando um general derramou indignação e mobilizou o Alto Comando do Exército. O espírito é este: "Como? Como alguém pode ter a ousadia de dizer que, eventualmente, quem sabe, talvez, haja corrupção nas Forças Armadas?".
Bem. Se nunca tivessem apreendido armas de uso exclusivo do Exército, da Marinha e da Aeronáutica a serviço dos piores e mais carniceiros líderes do crime organizado no Rio de Janeiro, vá lá. Mas, já que isso ocorreu, é preciso traçar muito bem a trajetória dessas armas desde os quartéis até os morros. E saber quem liderou os comboios.
Ou seja: não se diz que a corrupção grassa nas Forças Armadas, muito menos que a instituição seja corrupta. Ninguém acha isso. Mas apenas se alerta para o fato de que, se há suspeitas isoladas, é preciso apurar. Até para o próprio bem das três Forças, que se têm comportado de forma impecável, cada vez mais profissionais e menos políticas. Se há resíduos de corrupção, por menores que sejam, é melhor admitir e sanar do que ficar irritado e jogar tudo para debaixo do tapete.
Perguntar não ofende. Querer essas coisas em pratos limpos também não. Se o princípio vale para tudo, todos e todas as instituições, por que só não valeria para uma?



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