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ELIANE CANTANHÊDE
Não-me-toques
BRASÍLIA - Todas as instituições podem sofrer suspeitas, ser criticadas e
investigadas. Mas, aparentemente,
esse não é o caso do Exército brasileiro, acima do bem e do mal.
Pelo menos é o que se deduz de uma
confusão danada, ontem em Brasília,
por causa de uma reportagem de TV
em que o secretário nacional de Segurança Pública, Luiz Eduardo Soares,
falava do combate ao crime organizado.
Terminada a sonora dele, os locutores acrescentaram, "off" (sem atribuir a informação diretamente a
ninguém), que as investigações de
corrupção seriam, por exemplo, nas
polícias Civil, Militar e Rodoviária,
assim como nas Forças Armadas.
Pronto. Deus-nos-acuda. A reportagem foi ao ar na noite de quarta e
virou um escândalo na manhã de ontem, quando um general derramou
indignação e mobilizou o Alto Comando do Exército. O espírito é este:
"Como? Como alguém pode ter a ousadia de dizer que, eventualmente,
quem sabe, talvez, haja corrupção
nas Forças Armadas?".
Bem. Se nunca tivessem apreendido
armas de uso exclusivo do Exército,
da Marinha e da Aeronáutica a serviço dos piores e mais carniceiros líderes do crime organizado no Rio de
Janeiro, vá lá. Mas, já que isso ocorreu, é preciso traçar muito bem a trajetória dessas armas desde os quartéis até os morros. E saber quem liderou os comboios.
Ou seja: não se diz que a corrupção
grassa nas Forças Armadas, muito
menos que a instituição seja corrupta. Ninguém acha isso. Mas apenas se
alerta para o fato de que, se há suspeitas isoladas, é preciso apurar. Até
para o próprio bem das três Forças,
que se têm comportado de forma impecável, cada vez mais profissionais e
menos políticas. Se há resíduos de
corrupção, por menores que sejam, é
melhor admitir e sanar do que ficar
irritado e jogar tudo para debaixo do
tapete.
Perguntar não ofende. Querer essas
coisas em pratos limpos também não.
Se o princípio vale para tudo, todos e
todas as instituições, por que só não
valeria para uma?
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