São Paulo, sexta-feira, 14 de março de 2003 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES A volta do pesadelo atômico
CARLOS DE MEIRA MATTOS
Nesse cenário conturbado da pré-guerra que estamos vivendo, algumas informações e constatações são responsáveis pela volta do pesadelo atômico. Entre essas destacamos: a suspeita de que Sadam Hussein possui engenhos radioativos de destruição em massa; a suspeita de que grupos terroristas tenham conseguido fabricar bombas atômicas de efeito reduzido; o anúncio do governo do Irã de reativação de sua indústria nuclear; as ameaças do governo da Coréia do Norte de reiniciar a produção de bombas atômicas e atacar os Estados Unidos e seus aliados com essas armas; e, por fim, a recente revelação do presidente Bush acerca da fabricação de minibombas nucleares, capazes de destruir "bunkers" e penetrar em cavernas. Como se vê, volta a hipótese, que estava adormecida, do uso militar de engenhos nucleares. Na opinião da cientista Rebecca Johnson, em entrevista dada em Genebra, a ameaça do uso militar de armas nucleares volta, agora, com maior índice de periculosidade do que na época da Guerra Fria. Justifica sua opinião a autora de "Disarmament Diplomacy": "A corrida nuclear hoje é difícil de prever e controlar. Nesse sentido, hoje é mais perigosa. E agora temos vários atores, alguns dos quais no Oriente Médio e no sudeste asiático, envolvidos em conflitos regionais muito sérios". Interrogada sobre o efeito psicológico do anúncio do governo de Washington sobre a fabricação das minibombas nucleares, respondeu a entrevistada: "É muito perigoso. Parte de um princípio de que armas nucleares têm o seu papel e podem ser usadas, depois que se levou anos para mudar o conceito militar de uso de armas nucleares". A bomba atômica, para aqueles que a possuíam, graças aos esforços de inúmeros organismos internacionais, tinha passado a ser considerada mais um instrumento político-diplomático de dissuasão, de ameaça, do que uma arma de guerra de uso permitido. Esse consenso de rejeição ao uso militar das armas nucleares, construído com inauditos esforços pelos mais brilhantes estadistas durante os últimos 60 anos, desde o lançamento das bombas sobre Hiroshima e Nagasaki, é que, hoje, vemos destruído, em face das apreensões e incertezas do clima de pré-guerra em que estamos envolvidos. Carlos de Meira Mattos, 89, general reformado do Exército e veterano da Segunda Guerra Mundial, é doutor em ciência política e conselheiro da Escola Superior de Guerra. Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Eduardo Portella: Saberes contingenciados Próximo Texto: Painel do leitor Índice |
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