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São Paulo, segunda-feira, 14 de abril de 2003

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A QUESTÃO CURDA

O final da guerra no Iraque evidencia, mais uma vez, o problema curdo. A cidade de Kirkuk, no norte do Iraque, foi tomada por "peshmerga" (guerrilheiros curdos), o que prontamente colocou a Turquia em estado de alerta, ameaçando até movimentar seus exércitos para impedir a criação de um Estado curdo no norte do Iraque.
A questão curda de fato está entre os problemas de mais difícil solução do Oriente Médio, já pródigo em terríveis impasses políticos. Os curdos constituem uma população de mais de 20 milhões de pessoas que não conta com um Estado nacional. Para agravar o problema, estão dispersos por vários países, principalmente a Turquia, o Irã, o Iraque e a Síria.
Nenhum deles, é claro, está disposto a ceder território para a criação de um Curdistão independente. O contencioso maior é com a Turquia, onde curdos representam cerca de 20% da população e onde uma atuante guerrilha terrorista, acompanhada de violenta repressão, levou a uma guerra civil de baixa intensidade.
Para agravar ainda mais a questão, curdos tornaram-se uma espécie de arma com a qual os Estados da região pressionavam uns aos outros. Um exemplo: a Síria deu abrigo a guerrilheiros curdos que atuavam contra a Turquia, o que levou Ancara a firmar aliança com Israel de forma a constranger os sírios. Esse já complexo xadrez se complica ainda mais quando se considera que existem importantes minorias curdas no Azerbaijão e na Geórgia, ex-repúblicas soviéticas nas quais Moscou ainda tem grande interesse.
As dificuldades para a criação de um Estado nacional curdo são tantas que a tendência é que o "statu quo" seja mantido. Resta saber se os curdos iraquianos vão se conformar em renunciar à independência agora que o regime de Saddam Hussein, que os perseguiu implacavelmente, caiu.
O fiel da balança serão os EUA. A lógica sugere que Washington evitará contrariar Ancara e fomentar ainda mais instabilidade na região, mas, por outro lado, Bush parece estar descontente com os turcos.


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