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São Paulo, segunda-feira, 14 de abril de 2003

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São Paulo, cidade olímpica?

JORGE WILHEIM


O desafio olímpico permitirá um salto quantitativo e qualitativo na cidade, superando em menor tempo as carências


Em qualquer cidade do mundo, a realização dos Jogos Olímpicos é um enorme desafio e oportunidade. Afinal é preciso criar condições para que, em 17 dias, 18 mil atletas, juízes e funcionários, 25 mil pessoas da mídia e meio milhão de espectadores vejam o melhor do desempenho esportivo. São 41 eventos das 28 modalidades olímpicas. Os atletas ficarão hospedados em 10 mil quartos, os juízes e funcionários, em 2.000. Milhares ficarão em hotéis e flats. Todos terão de circular rapidamente entre moradia e eventos, numa festa vista por 4 bilhões de telespectadores em 200 países. São 3.500 horas de cobertura televisiva.
As últimas Olimpíadas atestam as oportunidades para as cidades hospedeiras. Barcelona multiplicou por sete o seu PIB. Sidney dobrou o número de turistas. Atenas reorganiza sua área metropolitana e o transporte de massa para 2004 e Pequim faz radical modernização, para 2008. Em São Paulo, desafios e oportunidades são encarados com objetividade e realismo. Além da visibilidade que uma sede olímpica proporciona, a realização aqui dos Jogos de 2012 permitirá acelerar a implantação dos mais importantes equipamentos e redes de infra-estrutura previstos pelo município e pelo Estado.
O desafio olímpico permitirá um salto quantitativo e qualitativo na cidade, superando em menor tempo as carências já diagnosticadas, seja no campo do transporte ou no ambiental. A bandeira olímpica concentrará esforços na superação da violência, oferecendo trabalho e oportunidades à juventude.
O legado urbano será, entre outros, a despoluição das represas de Guarapiranga e Billings, assim como o término das obras de controle, limpeza e navegação recreativa do Tietê. Os aeroportos serão alcançados por transporte de massa sobre trilhos. Estão previstas duas novas linhas de metrô e a extensão de outras duas. Ao todo, serão 25 novas estações, com estacionamentos.
Essas inovações constam do PDE (Plano Diretor Estratégico), assim como do Plano de Transporte Urbano previsto para 2020. A distribuição de equipamentos esportivos permanentes permitirá acelerar operações urbanas constantes do PDE, além de propiciar usufruto da população e a multiplicação de eventos futuros.
Céticos perguntam se somos capazes. Claro que sim! Não é mero voluntarismo, embora a iniciativa, vontade política e empenho da prefeita, com o apoio do governador, sejam fundamentais.
São Paulo é hoje uma cidade global. Seu papel é reconhecido mundialmente. Atrai empresas, investidores e pessoas por ser moderna, cosmopolita, sede de mil povos e culturas que convivem em tolerância e criatividade.
É a capital das oportunidades do país. É o maior centro econômico, financeiro e tecnológico da América Latina, com o mais ativo aeroporto internacional e um centro médico de excelência continental. É cidade-pólo da América do Sul no setor de serviços. São Paulo conta com o maior número de atletas olímpicos do país e tem know-how em eventos. É, reconhecidamente, uma das melhores sedes da Fórmula 1. Centro gastronômico de primeira grandeza, sede de eventos culturais de alcance mundial, ostenta a maior rede de hospedagem do país.
A postulação de São Paulo mobiliza todos os níveis governamentais paulistas, esportistas e clubes, ONGs e empresariado, intelectuais e profissionais envolvidos. Imenso mutirão de apoio se consolidou no Conselho de Postulação Olímpica, instalado em 18 de fevereiro.
O conselho, presidido pela prefeita Marta Suplicy, tem por primeiro vice-presidente, indicado pelo governador Geraldo Alckmin, o secretário estadual de Esportes, Lars Grael. O entusiasmo geral contagiou os 120 conselheiros até a apresentação, hoje, do questionário e do projeto de postulação ao Comitê Olímpico Brasileiro. São animadoras as palavras do ministro do Esporte, Agnelo Santos Queiroz Filho, e do presidente do COB, Carlos Arthur Nuzman, que será o comandante da postulação brasileira ao Comitê Olímpico Internacional.
Trabalhamos há seis meses para produzir o melhor projeto para uma postulação brasileira, talvez sul-americana. O apoio e as contribuições das federações esportivas têm sido de valia inestimável, assim como a dos clubes e dos atletas olímpicos paulistas. Reunimos cinco escritórios de arquitetura, supervisionados por Paulo Mendes da Rocha.
Em julho, a assembléia do COB decidirá se o Brasil aspira a tal nomeação. Escolherá uma cidade para encaminhar seu projeto ao COI até 15 de janeiro. Em junho de 2004, o COI indicará qual o pequeno grupo de quatro a seis cidades aspirantes. Começa aí a fase de candidatura, com entrega dos dossiês até novembro. A eleição final será em 7/7/2005.
Embora obter a nomeação de cidade-sede seja, em si, uma corrida de obstáculos, São Paulo confia na possibilidade de sediar as primeiras Olimpíadas da América do Sul.


Jorge Wilheim, 74, arquiteto e urbanista, é secretário de Planejamento Urbano do município de São Paulo.


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