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IGOR GIELOW
Desconstruindo Lula
BRASÍLIA - A comédia de erros do caso Larry Rohter, ainda inconclusa,
tem pelo menos um mérito. Colabora
para a desconstrução do mito Lula.
O petista tem a aura de líder político mais popular da história recente
do país, com trajetória que simboliza
a vitalidade democrática brasileira.
Dito isso, é argumentável que a exposição do presidente e sua equipe à
prática de governar esteja minando
essa imagem -ajudada, e muito,
por anos na oposição, onde o escrutínio de mídia sempre foi mínimo.
Uma vez no poder, além do desgaste natural das atribuições de seu
exercício, começaram a surgir tintas
orwellianas no discurso e na prática
de Lula e seu grupo de poder.
Vejamos a relação com a mídia,
marcada pelas falas de Lula e de Luiz
Gushiken sobre os males que o contraditório, a "má notícia", traz ao
país. No caso Rohter, leu-se ontem
nesta Folha o porta-voz André Singer escrever que a liberdade de imprensa não está ameaçada porque o
"NYT" pode enviar algum outro jornalista. Só faltou dizer: "Desde que
seja bem comportadinho, lógico".
O caso todo não poderia ser mais
exemplar. Ex-perseguidos políticos
viraram inquisidores. Depois de
"ponderar", como de forma involuntariamente cômica disse Singer, Lula
resolveu mandar o infiel à fogueira.
Pior. Como um Luís 14 tropical, o
presidente disse que a decisão foi necessária porque a imagem do Brasil
foi atacada. Não, não foi. O Estado
não é Lula.
Tais idéias mostram um senso crescentemente autocrático no centro do
poder, com as "certezas" de Lula cada vez mais parecidas com receitas
de livros de auto-ajuda, desconectadas da realidade. Ontem, dia em que
o governo recebeu duras censuras internacionais, Lula proclamou: "O
Brasil está cada vez mais respeitado
em todo o mundo".
Lógico que o "povo" pode adorar,
limitando a auto-análise desses desatinos pela certeza da aprovação de
sua intuição. Uma pena. Desmontar
o mito Lula poderia mostrar-se benéfico para Luiz Inácio, o presidente.
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