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GABRIELA WOLTHERS
Fígado e cérebro
RIO DE JANEIRO - Quando Lula e seus conselheiros palacianos decidiram, com uma canetada só, fechar
todas as casas de bingo do Brasil, começou-se a vislumbrar uma característica que se cristaliza agora com a tentativa de expulsar o jornalista
americano Larry Rohter do país -a
falta de serenidade do governo.
Nos dois casos, o presidente e seu
núcleo mais próximo demonstraram
que são capazes de tirar qualquer
coelho da cartola quando estão sob
pressão. Seja porque estão acuados
por denúncias -como no caso Waldomiro Diniz, que detonou o fechamento sem planejamento nenhum
dos bingos- , seja porque se sentem
injustiçados -caso da reportagem
do "New York Times".
O detalhe é que o país não é uma
arena de circo onde as pessoas aplaudem passes de mágica. Ainda mais
quando feitos de improviso. Não cabe
a um governo decidir com o fígado
ou com o coração. O mínimo que se
espera é que ele pondere com o cérebro as conseqüências de suas atitudes. Até para evitar o desgaste duplo
de tomá-las e ainda vê-las revogadas
sem muita força, como ocorreu tanto
num episódio como no outro.
Ao deixar as pessoas boquiabertas
com suas medidas, o governo federal
começa a passar a imagem de inconseqüência. Não dá para voltarmos ao
tempo em que o Brasil permanecia
sob tensão a espera da próxima atitude inusitada do Palácio do Planalto.
Do jeito que o mundo anda, com incertezas políticas e econômicas por
todos os lados, tudo de que não precisamos é contribuir para aumentar
ainda mais o clima de desconfiança.
Que pelo menos as nossas turbulências sejam causadas por motivos
mais nobres do que Waldomiros ou
Larries da vida.
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