São Paulo, sexta-feira, 14 de maio de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

GABRIELA WOLTHERS

Fígado e cérebro

RIO DE JANEIRO - Quando Lula e seus conselheiros palacianos decidiram, com uma canetada só, fechar todas as casas de bingo do Brasil, começou-se a vislumbrar uma característica que se cristaliza agora com a tentativa de expulsar o jornalista americano Larry Rohter do país -a falta de serenidade do governo.
Nos dois casos, o presidente e seu núcleo mais próximo demonstraram que são capazes de tirar qualquer coelho da cartola quando estão sob pressão. Seja porque estão acuados por denúncias -como no caso Waldomiro Diniz, que detonou o fechamento sem planejamento nenhum dos bingos- , seja porque se sentem injustiçados -caso da reportagem do "New York Times".
O detalhe é que o país não é uma arena de circo onde as pessoas aplaudem passes de mágica. Ainda mais quando feitos de improviso. Não cabe a um governo decidir com o fígado ou com o coração. O mínimo que se espera é que ele pondere com o cérebro as conseqüências de suas atitudes. Até para evitar o desgaste duplo de tomá-las e ainda vê-las revogadas sem muita força, como ocorreu tanto num episódio como no outro.
Ao deixar as pessoas boquiabertas com suas medidas, o governo federal começa a passar a imagem de inconseqüência. Não dá para voltarmos ao tempo em que o Brasil permanecia sob tensão a espera da próxima atitude inusitada do Palácio do Planalto. Do jeito que o mundo anda, com incertezas políticas e econômicas por todos os lados, tudo de que não precisamos é contribuir para aumentar ainda mais o clima de desconfiança. Que pelo menos as nossas turbulências sejam causadas por motivos mais nobres do que Waldomiros ou Larries da vida.


Texto Anterior: Brasília - Igor Gielow: Desconstruindo Lula
Próximo Texto: José Sarney: Napoleão e o cachorro do Marcelo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.