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São Paulo, sábado, 14 de junho de 2003

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DEMOCRACIA EM BAIXA

A democracia não vive o seu melhor momento no Brasil. Esse é o resultado da pesquisa "Latinobarómetro" de 2003, que aponta o Brasil como o país latino-americano no qual menos pessoas concordam com a frase "a democracia é preferível a qualquer outra forma de governo". Por aqui, apenas 37% assinariam embaixo da sentença.
É verdade que a situação já foi pior, a crer nesta sondagem que é realizada periodicamente desde 1995. O apoio à democracia no Brasil, que vinha na casa dos 48%, começou a cair sistematicamente em 1998, ano da reeleição do presidente Fernando Henrique Cardoso e da crise cambial. Em 2000, os que preferiam a democracia a qualquer outro modelo caíram para 39% e, em 2001, para 30%. Assim, a marca de 37% agora registrada não deixa de soar como uma recuperação.
Os números são de certo modo surpreendentes. A democracia é uma instituição. Em princípio, ninguém é partidário da democracia num ano para deixar de sê-lo dois anos depois e, a seguir, retornar ao ponto de partida. O mais provável é que esteja havendo uma contaminação. O entrevistado não pensa apenas em termos institucionais, mas confunde o conceito de democracia com o funcionamento do Estado. Se a hipótese é correta, fica mais fácil entender por que o ano de 2001, que coincidiu com o apagão e o consequente agravamento da situação econômica, foi o de pior "performance" da democracia.
O perigo do desprestígio da democracia, porém, permanece, havendo ou não confusão conceitual na cabeça dos pesquisados. Tanto é assim que golpistas, quando tentam suas aventuras extra-institucionais, procuram explorar o descontentamento da população com o "statu quo" e transferi-lo para a democracia. Trata-se, evidentemente, de uma falácia, mas isso não torna seus efeitos menos devastadores. Felizmente, são mais do que remotas as chances de uma ruptura no Brasil, o que não isenta o país de fazer o Estado funcionar e, desse modo, resgatar a imagem da democracia.


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