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DEMOCRACIA EM BAIXA
A democracia não vive o seu
melhor momento no Brasil.
Esse é o resultado da pesquisa "Latinobarómetro" de 2003, que aponta o
Brasil como o país latino-americano
no qual menos pessoas concordam
com a frase "a democracia é preferível a qualquer outra forma de governo". Por aqui, apenas 37% assinariam embaixo da sentença.
É verdade que a situação já foi pior,
a crer nesta sondagem que é realizada periodicamente desde 1995. O
apoio à democracia no Brasil, que vinha na casa dos 48%, começou a cair
sistematicamente em 1998, ano da
reeleição do presidente Fernando
Henrique Cardoso e da crise cambial. Em 2000, os que preferiam a democracia a qualquer outro modelo
caíram para 39% e, em 2001, para
30%. Assim, a marca de 37% agora
registrada não deixa de soar como
uma recuperação.
Os números são de certo modo
surpreendentes. A democracia é uma
instituição. Em princípio, ninguém é
partidário da democracia num ano
para deixar de sê-lo dois anos depois
e, a seguir, retornar ao ponto de partida. O mais provável é que esteja havendo uma contaminação. O entrevistado não pensa apenas em termos
institucionais, mas confunde o conceito de democracia com o funcionamento do Estado. Se a hipótese é correta, fica mais fácil entender por que
o ano de 2001, que coincidiu com o
apagão e o consequente agravamento da situação econômica, foi o de
pior "performance" da democracia.
O perigo do desprestígio da democracia, porém, permanece, havendo
ou não confusão conceitual na cabeça dos pesquisados. Tanto é assim
que golpistas, quando tentam suas
aventuras extra-institucionais, procuram explorar o descontentamento
da população com o "statu quo" e
transferi-lo para a democracia. Trata-se, evidentemente, de uma falácia,
mas isso não torna seus efeitos menos devastadores. Felizmente, são
mais do que remotas as chances de
uma ruptura no Brasil, o que não
isenta o país de fazer o Estado funcionar e, desse modo, resgatar a imagem da democracia.
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