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São Paulo, sábado, 14 de junho de 2003

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CLÓVIS ROSSI

O bode e os juros

SÃO PAULO - Horácio Lafer Piva entra na campanha pela redução dos juros com uma frase que soa a chantagem: ou caem os juros, ou haverá demissões em massa na indústria.
Pode até ser verdade, mas faltou dizer que, mesmo que os juros caiam na reunião do Copom na semana que vem, continuarão elevadíssimas as chances de a indústria cortar cabeças em penca (para não falar do comércio e dos serviços).
Os juros altos, a esta altura, são o bode na sala do desenvolvimento. Mesmo retirado, a sala Brasil continuará apertada, limitada, "difícil", como agora reconhece até o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social também despertou para o óbvio e botou no papel durante sua reunião mais recente, na quinta-feira, a seguinte frase:
"Não existe precedente de que políticas preponderantemente recessivas tenham propiciado desenvolvimento com crescimento sustentado e inclusão social".
Políticas preponderantemente recessivas não se fazem apenas com juros altos. Portanto ou o PT reinventa a roda ou a política macroeconômica que está seguindo religiosamente até agora não será capaz de propiciar desenvolvimento com crescimento sustentado e inclusão social, na visão de um conselho criado e acarinhado pelo próprio governo.
A única hipótese de o Copom oferecer algum alívio de fato, na reunião da semana que vem, é dar um corte forte nos juros. Reduzi-los a 20% ou até menos. Alguém acha, honestamente, que haveria, nessa hipótese, explosão de consumo, quando se sabe que os salários se arrastam pelo solo e inúmeras empresas trabalham apenas para pagar dívidas?
Um corte radical emitiria, sim, um sinal psicológico positivo. Agora, se o BC vier com 0,5 ponto de redução ou nada, não servirá nem para tirar o bode inteiro da sala.


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