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TENDÊNCIAS/DEBATES
Chegou a hora de baixar a taxa de juros?
NÃO
Melhor não mexer para não se arrepender
SÉRGIO HABERFELD
A política de manutenção da taxa
básica de juros em 26,5% ao ano,
embora seja alvo de enorme controvérsia entre os vários níveis do governo e
do setor privado, é acertada, na minha
opinião.
Como todo industrial brasileiro, preciso fazer e faço enormes esforços para
manter o círculo virtuoso de crescimento das minhas empresas. Em um mundo ideal, o constante aumento da minha
produção e investimentos, bem como o
incremento do número de funcionários
para que eu possa atender às demandas
dos meus clientes, seria lógico e perfeitamente factível. Infelizmente esse
mundo ainda não existe e o quadro que
acabei de pintar definitivamente não é o
que está exposto nas manchetes de todos os jornais do Brasil e do mundo.
A taxa de juros, no patamar em que
está, reflete diretamente o excesso de
preocupação do governo em relação à
inflação -que, com certeza, foi o principal vilão da atividade industrial no
passado. Se realmente pensamos que as
taxas de juros são as maiores responsáveis pelo baixo crescimento de nossa
atividade econômica, certamente não
nos lembramos do famoso "dragão da
inflação", que assolou a nossa economia
durante mais de 30 anos.
As estatísticas mundiais mostram que
os países que mais frequentemente são
castigados por surtos inflacionários são
justamente aqueles que já sofreram com
esse problema no passado. Isso quer dizer que, se não ficarmos atentos e não
mantivermos a austeridade, corremos
um sério risco de que a tragédia se instale novamente.
Segundo dados veiculados recentemente pela imprensa, se o governo ceder às pressões e reduzir a taxa de juros
já na próxima reunião do Copom, com
a taxa de inflação de julho, a acumulada
nos 12 meses do ano, cuja previsão é
chegar a 20%, pode subir ainda mais.
Embora ela esteja dando sinais de queda nos últimos meses, considero que
sua velocidade ainda está aquém do esperado. Pela aplicação semestral das tarifas já acertadas, se a economia estiver
aquecida, ou em aquecimento, no segundo semestre, essa taxa será repassada aos salários nas datas-bases mais importantes, cuja negociação se inicia em
agosto e setembro.
Aos que ainda insistem em criticar a
política monetária do governo Lula, recordo que, antes do Plano Real, o Brasil
tentou acabar com a inflação em nada
menos do que oito planos econômicos.
A moeda nacional mudou de nome cinco vezes e os presidentes que fracassaram nessa missão entraram para a história com amargos pontos de impopularidade.
Tenho apoiado todas as iniciativas
propostas pela equipe econômica do
governo Lula, desde o seu início. Por
outro lado, conheço e acredito em todos
os argumentos daqueles que defendem
a queda da taxa de juros já no próximo
mês. Entendo que a sua manutenção
em 26,5% engessa a nossa economia,
impedindo a queda da dívida interna, a
expansão do crédito, os investimentos
produtivos e o aumento do emprego.
Mesmo assim, insisto em argumentar
que o sacrifício que tem sido feito neste
momento e a confiança do empresariado nas políticas adotadas contribuirão
enormemente para o avanço de seu planejamento, execução e, consequentemente, para o crescimento sustentável
da economia do nosso país a partir de
2004.
Sérgio Haberfeld, 59, empresário, presidente do Conselho de Administração da Dixie-Toga, é membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social.
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