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São Paulo, sábado, 14 de junho de 2003

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Chegou a hora de baixar a taxa de juros?

NÃO

Melhor não mexer para não se arrepender

SÉRGIO HABERFELD

A política de manutenção da taxa básica de juros em 26,5% ao ano, embora seja alvo de enorme controvérsia entre os vários níveis do governo e do setor privado, é acertada, na minha opinião.
Como todo industrial brasileiro, preciso fazer e faço enormes esforços para manter o círculo virtuoso de crescimento das minhas empresas. Em um mundo ideal, o constante aumento da minha produção e investimentos, bem como o incremento do número de funcionários para que eu possa atender às demandas dos meus clientes, seria lógico e perfeitamente factível. Infelizmente esse mundo ainda não existe e o quadro que acabei de pintar definitivamente não é o que está exposto nas manchetes de todos os jornais do Brasil e do mundo.
A taxa de juros, no patamar em que está, reflete diretamente o excesso de preocupação do governo em relação à inflação -que, com certeza, foi o principal vilão da atividade industrial no passado. Se realmente pensamos que as taxas de juros são as maiores responsáveis pelo baixo crescimento de nossa atividade econômica, certamente não nos lembramos do famoso "dragão da inflação", que assolou a nossa economia durante mais de 30 anos.
As estatísticas mundiais mostram que os países que mais frequentemente são castigados por surtos inflacionários são justamente aqueles que já sofreram com esse problema no passado. Isso quer dizer que, se não ficarmos atentos e não mantivermos a austeridade, corremos um sério risco de que a tragédia se instale novamente.
Segundo dados veiculados recentemente pela imprensa, se o governo ceder às pressões e reduzir a taxa de juros já na próxima reunião do Copom, com a taxa de inflação de julho, a acumulada nos 12 meses do ano, cuja previsão é chegar a 20%, pode subir ainda mais. Embora ela esteja dando sinais de queda nos últimos meses, considero que sua velocidade ainda está aquém do esperado. Pela aplicação semestral das tarifas já acertadas, se a economia estiver aquecida, ou em aquecimento, no segundo semestre, essa taxa será repassada aos salários nas datas-bases mais importantes, cuja negociação se inicia em agosto e setembro.
Aos que ainda insistem em criticar a política monetária do governo Lula, recordo que, antes do Plano Real, o Brasil tentou acabar com a inflação em nada menos do que oito planos econômicos. A moeda nacional mudou de nome cinco vezes e os presidentes que fracassaram nessa missão entraram para a história com amargos pontos de impopularidade.
Tenho apoiado todas as iniciativas propostas pela equipe econômica do governo Lula, desde o seu início. Por outro lado, conheço e acredito em todos os argumentos daqueles que defendem a queda da taxa de juros já no próximo mês. Entendo que a sua manutenção em 26,5% engessa a nossa economia, impedindo a queda da dívida interna, a expansão do crédito, os investimentos produtivos e o aumento do emprego.
Mesmo assim, insisto em argumentar que o sacrifício que tem sido feito neste momento e a confiança do empresariado nas políticas adotadas contribuirão enormemente para o avanço de seu planejamento, execução e, consequentemente, para o crescimento sustentável da economia do nosso país a partir de 2004.


Sérgio Haberfeld, 59, empresário, presidente do Conselho de Administração da Dixie-Toga, é membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social.


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