São Paulo, domingo, 14 de julho de 2002

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CLÓVIS ROSSI

A crise da cobiça

SÃO PAULO - A capa da revista britânica "The Economist", na edição que começou a circular sexta-feira, avisa que "o capitalismo americano está tomando uma surra".
Já o jornal também britânico "Financial Times" abriu, na sua versão eletrônica, uma rubrica chamada "crise do capitalismo".
Será que chegou enfim "a crise final do capitalismo" -tantas vezes anunciada pelos velhos comunistas apenas para que a crise final do comunismo os atropelasse?
Não. A crise é de um modelo, o modelo norte-americano de fazer negócios, como escreve o colunista William Pfaff em "The International Herald Tribune":
"O modelo (...) de hoje é recente. Poderia ser descartado e substituído por algo mais racional se houvesse vontade para fazê-lo. Mas a ideologia e a cobiça se interpuseram. A ideologia é a desregulação".
Eis o ponto: capitalismo e cobiça sempre foram sinônimos. E sempre serão. O que a contém é exatamente a capacidade de regulação pelo Estado numa ponta e a de controle pela sociedade na outra (nem que seja pela microssociedade formada pelos acionistas de uma dada empresa).
Enquanto o comunismo assustava, o capitalismo se via forçado a regular-se e a fazer concessões. Cedeu anéis (nem todos) por medo de perder os dedos. Derrotado o comunismo, ficou sem freios e chegou ao que Pfaff chama de "modelo americano de negócios de hoje".
Já houve quem preferisse outra definição. No início do século 20, o então presidente norte-americano Theodore Roosevelt, às voltas com outro surto de cobiça desvairada, chamou os homens de negócio de "malfeitores de grande riqueza".
É o que conta Eric Rauchway, professor de história da Universidade da Califórnia, em texto para o "FT" significativamente chamado de "Um século de crime corporativo".
Como o comunismo também não é resposta, resta, até que se invente coisa melhor, "crescente regulação governamental", ensina Rauchway.


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