São Paulo, quarta-feira, 14 de agosto de 2002

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COMOÇÃO COLOMBIANA

Ao declarar estado de comoção interna, o novo presidente da Colômbia, o conservador Álvaro Uribe, indica que aposta numa solução militar para a guerra civil. O estado de comoção dá a Uribe poderes para governar por decreto e suspende garantias constitucionais. O presidente já aproveitou as novas prerrogativas, válidas por 90 dias, para baixar uma taxa sobre propriedades que será usada no combate às guerrilhas. Também ordenou o bombardeio de posições das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), a principal guerrilha do país.
Até aí, nada há de surpreendente. Uribe foi eleito já no primeiro turno justamente com a promessa de utilizar "mão firme" contra grupos armados. A questão, entretanto, é mais complexa. A maioria dos analistas considera que não existe solução militar para a guerra civil colombiana. A guerrilha existe já há 40 anos. Durante 30 anos, o país viveu sob estado de sítio mais ou menos ininterrupto sem que as forças do governo tivessem conseguido acabar com os principais grupos insurretos.
Embora a mais recente tentativa de negociação, sob o governo Andrés Pastrana (1998-2002), tenha falhado -e principalmente por culpa da guerrilha-, é importante manter abertos canais de comunicação e evitar a guerra total. A paz futura quase certamente passará por um entendimento entre governo e guerrilhas.
O fato de a população aprovar a retórica dura não significa que essa tendência perdurará. Há apenas quatro anos, Pastrana era sagrado presidente, tendo como bandeira a negociação com os movimentos rebeldes.
Ainda que Uribe não tenha fechado inteiramente as portas para o diálogo, tudo indica que ele vá manter as Farc sob intensa pressão militar. O risco em casos como esse é que se perca o controle e a Colômbia se precipite numa guerra total, que tornará ainda mais longínquas as perspectivas para uma paz duradoura.



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