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FERNANDO RODRIGUES
Lula positivista
BRASÍLIA - Palavras e expressões que não foram pronunciadas por Lula
em sua exposição de anteontem para
a Folha de acordo com íntegra divulgada na internet: capitalismo, socialismo, liberal, neoliberal e Consenso
de Washington.
É sintomático que o favorito do momento para ganhar o Planalto fale
por duas horas e 15 minutos e consiga
se expressar sem usar as palavras do
parágrafo anterior.
Lula mudou seu discurso. Não há
novidade nisso. Mas o candidato do
PT a presidente da República usou
uma expressão intrigante ao responder a uma pergunta de Eleonora de
Lucena sobre quem perderia em um
governo petista: "Em vez de falar em
quem vai perder, vamos falar em
quem tem de ganhar, estou numa
campanha positivista".
Lula foi aplaudido. Possivelmente,
queria dizer que sua campanha é otimista -no sentido popular de "pensar positivo". Distante da filosofia positivista, de Augusto Comte.
Esse "positivismo" de Lula é uma
das maiores marcas do estilo do marketing que o cerca, tão usado também por FHC. Quando acuado, o tucano sempre diz que não se deve governar "olhando pelo retrovisor". Em
política, "olha-se para a frente".
No caso de Lula, trata-se de um eufemismo para não falar de forma explícita: "Não quero problemas nem
complicações; não me venham com
história de auditoria de dívida externa ou de investigação para achar culpados por privatizações malfeitas".
Em resumo, a campanha de Lula é
a que, do ponto de vista essencialmente do marketing, vem oferecendo
o que mais os eleitores sempre desejam aqui, nos EUA ou na África do
Sul: expectativa de mudança. Mesmo
que nada ou quase nada seja explicado a respeito de como será de fato
realizada a tal mudança.
É impossível dizer se essa estratégia
dará certo até o final da eleição, no
segundo turno do dia 27 de outubro
-quando, aliás, Lula completará 57
anos de idade. Até agora deu.
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