São Paulo, quarta-feira, 14 de agosto de 2002

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FERNANDO RODRIGUES

Lula positivista

BRASÍLIA - Palavras e expressões que não foram pronunciadas por Lula em sua exposição de anteontem para a Folha de acordo com íntegra divulgada na internet: capitalismo, socialismo, liberal, neoliberal e Consenso de Washington.
É sintomático que o favorito do momento para ganhar o Planalto fale por duas horas e 15 minutos e consiga se expressar sem usar as palavras do parágrafo anterior.
Lula mudou seu discurso. Não há novidade nisso. Mas o candidato do PT a presidente da República usou uma expressão intrigante ao responder a uma pergunta de Eleonora de Lucena sobre quem perderia em um governo petista: "Em vez de falar em quem vai perder, vamos falar em quem tem de ganhar, estou numa campanha positivista".
Lula foi aplaudido. Possivelmente, queria dizer que sua campanha é otimista -no sentido popular de "pensar positivo". Distante da filosofia positivista, de Augusto Comte.
Esse "positivismo" de Lula é uma das maiores marcas do estilo do marketing que o cerca, tão usado também por FHC. Quando acuado, o tucano sempre diz que não se deve governar "olhando pelo retrovisor". Em política, "olha-se para a frente".
No caso de Lula, trata-se de um eufemismo para não falar de forma explícita: "Não quero problemas nem complicações; não me venham com história de auditoria de dívida externa ou de investigação para achar culpados por privatizações malfeitas".
Em resumo, a campanha de Lula é a que, do ponto de vista essencialmente do marketing, vem oferecendo o que mais os eleitores sempre desejam aqui, nos EUA ou na África do Sul: expectativa de mudança. Mesmo que nada ou quase nada seja explicado a respeito de como será de fato realizada a tal mudança.
É impossível dizer se essa estratégia dará certo até o final da eleição, no segundo turno do dia 27 de outubro -quando, aliás, Lula completará 57 anos de idade. Até agora deu.



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