São Paulo, quarta-feira, 14 de agosto de 2002

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TENDÊNCIAS/DEBATES

As eleições e as pesquisas

RICARDO GUEDES FERREIRA PINTO

As eleições presidenciais de 2002 apresentam características da busca de parcela do eleitorado por uma terceira via, entre o voto no PT e voto no governo.
Até fevereiro deste ano, Lula tinha cerca de 30%, José Serra, 10%, e os demais candidatos somavam 45% das intenções de voto. Com a saída de Roseana Sarney e de Itamar Franco da corrida presidencial, Lula atingiu 42% e José Serra, 20%, com Ciro Gomes e Garotinho em terceiro lugar, na casa dos 10% a 14% do eleitorado.
Estas eleições caracterizam-se pela volatilidade do voto e por denúncias de possíveis ilegalidades por parte de candidatos e partidos, com oscilações significativas.
Estudo da Universidade de Chicago mostra que os países que atingiram cerca de US$ 5.000 de renda per capita anual e que têm alguma regra democrática tendem a não retroceder politicamente. Outro estudo mostra que partidos de esquerda, para atingirem o poder em democracias eleitorais, têm que flexibilizar os seus objetivos, já que os trabalhadores manuais se estabilizaram em 25% da população economicamente ativa de todos os países, a partir de 1920.
O argumento de que a vitória do PT levaria ao "calote" das dívidas interna e externa, com o perigo de "argentinização", acabou por evidenciar a volatilidade das contas nacionais.
Paradoxalmente, o argumento colocou José Serra na delicada situação de justificar por que, ao fazer parte do grupo político que deixa esse legado ao país, é a solução para o problema. Adicionalmente, as avaliações positiva e negativa da administração Fernando Henrique não facultam ao governo o saldo inequívoco da transferência de voto.
A partir de julho, Ciro Gomes apresenta significativo crescimento, como alternativa proveniente e de dissidência do Plano Real. As pesquisas indicam Lula na casa dos 33%, Ciro Gomes com 25%. José Serra, 14%, e Garotinho oscilando entre 10% e 12% das intenções de voto.
As pesquisas são um importante instrumento de aferição e de interpretação das intenções de voto. A Pesquisa CNT/ Sensus, em sua 50ª rodada, constitui um notável acervo de referência para o cidadão e as entidades sociais. Em sua série histórica, mostra-se não apenas estatisticamente compatível com as demais pesquisas, mas, por vezes, antecipando as tendências políticas e sociais.
Metodologicamente, adotamos os procedimentos desenvolvidos e recomendados internacionalmente, como o Norc (National Opinion Research Center), da Universidade de Chicago, formadora do paradigma das pesquisas de mercado e sociais.


Estas eleições caracterizam-se pela volatilidade do voto e por denúncias de possíveis ilegalidades


No plano amostral, adotamos o sistema de cotas, a partir da proporcionalização das entrevistas por regiões e Estados, sorteio aleatório das cidades por grupo de representação populacional, seleção probabilística sistemática dos setores censitários do IBGE para urbano e rural, seleção probabilística do domicílio com cotas para sexo, idade, escolaridade e coleta de renda.
Os questionários seguem estritamente as normas acadêmicas de sequência das perguntas e não-indução das respostas. No último ano, o Sensus realizou cinco pesquisas internacionais no Brasil com essa metodologia, sendo duas pesquisas para a Universidade de Chicago, duas para a Universidade de Michigan e uma para o Banco Mundial, para fenômenos não-eleitorais.
Os debates entre os candidatos e os programas eleitorais do TSE e dos TREs constituem a nova fase do período eleitoral. A Pesquisa CNT/Sensus estará aferindo e informando a população brasileira sobre os temas eleitorais e de interesse social.


Ricardo Guedes Ferreira Pinto, doutor em ciências políticas pela Universidade de Chicago (EUA), é diretor-presidente do Instituto de Pesquisa Sensus.



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