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TENDÊNCIAS/DEBATES
As eleições e as pesquisas
RICARDO GUEDES FERREIRA PINTO
As eleições presidenciais de 2002
apresentam características da busca de parcela do eleitorado por uma terceira via, entre o voto no PT e voto no
governo.
Até fevereiro deste ano, Lula tinha cerca de 30%, José Serra, 10%, e os demais
candidatos somavam 45% das intenções de voto. Com a saída de Roseana
Sarney e de Itamar Franco da corrida
presidencial, Lula atingiu 42% e José
Serra, 20%, com Ciro Gomes e Garotinho em terceiro lugar, na casa dos 10% a
14% do eleitorado.
Estas eleições caracterizam-se pela volatilidade do voto e por denúncias de
possíveis ilegalidades por parte de candidatos e partidos, com oscilações significativas.
Estudo da Universidade de Chicago
mostra que os países que atingiram cerca de US$ 5.000 de renda per capita
anual e que têm alguma regra democrática tendem a não retroceder politicamente. Outro estudo mostra que partidos de esquerda, para atingirem o poder em democracias eleitorais, têm que
flexibilizar os seus objetivos, já que os
trabalhadores manuais se estabilizaram
em 25% da população economicamente
ativa de todos os países, a partir de 1920.
O argumento de que a vitória do PT
levaria ao "calote" das dívidas interna e
externa, com o perigo de "argentinização", acabou por evidenciar a volatilidade das contas nacionais.
Paradoxalmente, o argumento colocou José Serra na delicada situação de
justificar por que, ao fazer parte do grupo político que deixa esse legado ao
país, é a solução para o problema. Adicionalmente, as avaliações positiva e negativa da administração Fernando Henrique não facultam ao governo o saldo
inequívoco da transferência de voto.
A partir de julho, Ciro Gomes apresenta significativo crescimento, como
alternativa proveniente e de dissidência
do Plano Real. As pesquisas indicam
Lula na casa dos 33%, Ciro Gomes com
25%. José Serra, 14%, e Garotinho oscilando entre 10% e 12% das intenções de
voto.
As pesquisas são um importante instrumento de aferição e de interpretação
das intenções de voto. A Pesquisa CNT/
Sensus, em sua 50ª rodada, constitui um
notável acervo de referência para o cidadão e as entidades sociais. Em sua série
histórica, mostra-se não apenas estatisticamente compatível com as demais
pesquisas, mas, por vezes, antecipando
as tendências políticas e sociais.
Metodologicamente, adotamos os
procedimentos desenvolvidos e recomendados internacionalmente, como o
Norc (National Opinion Research Center), da Universidade de Chicago, formadora do paradigma das pesquisas de
mercado e sociais.
Estas eleições caracterizam-se pela volatilidade do voto e por denúncias de possíveis ilegalidades
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No plano amostral, adotamos o sistema de cotas, a partir da proporcionalização das entrevistas por regiões e Estados, sorteio aleatório das cidades por
grupo de representação populacional,
seleção probabilística sistemática dos
setores censitários do IBGE para urbano e rural, seleção probabilística do domicílio com cotas para sexo, idade, escolaridade e coleta de renda.
Os questionários seguem estritamente as normas acadêmicas de sequência
das perguntas e não-indução das respostas. No último ano, o Sensus realizou cinco pesquisas internacionais no
Brasil com essa metodologia, sendo
duas pesquisas para a Universidade de
Chicago, duas para a Universidade de
Michigan e uma para o Banco Mundial,
para fenômenos não-eleitorais.
Os debates entre os candidatos e os
programas eleitorais do TSE e dos TREs
constituem a nova fase do período eleitoral. A Pesquisa CNT/Sensus estará
aferindo e informando a população brasileira sobre os temas eleitorais e de interesse social.
Ricardo Guedes Ferreira Pinto, doutor em ciências políticas pela Universidade de Chicago
(EUA), é diretor-presidente do Instituto de Pesquisa Sensus.
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