São Paulo, quinta-feira, 14 de outubro de 2004

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PRESSA PARA INVESTIR

Até o início desta semana, as evidências disponíveis sugeriam que a produção da indústria brasileira perdera ímpeto em agosto. Entre esses indícios estavam os resultados da expedição de papel ondulado (empregado em embalagens) e da produção dos ramos siderúrgico e automobilístico. No entanto a pesquisa mensal mais abrangente sobre o desempenho da atividade industrial -realizada pelo IBGE e divulgada na segunda-feira- atestou que a produção seguiu em expansão em agosto, chegando ao sexto mês consecutivo de alta sobre o mês imediatamente anterior.
O resultado surpreendeu os analistas e levou muitos deles a rever para cima suas estimativas para o crescimento da indústria e do PIB em 2004. Ainda assim, continua a preponderar a avaliação de que a economia tende a avançar no segundo semestre a uma velocidade menor do que a verificada na primeira metade do ano. Os próprios números do IBGE, relativos a agosto, embora melhores do que se esperava, corroboram essa avaliação, pois não escondem uma desaceleração de indicadores que ajudam a definir tendências. Os dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI) sobre as vendas da indústria proporcionam um retrato análogo ao que emerge do IBGE.
A desaceleração da indústria, no entanto, parece moderada, de modo a sustentar um nível razoável de dinamismo. O incremento da produção industrial até aqui é sem dúvida alentador sob a ótica da abertura de vagas de trabalho e da criação de um ambiente mais propício à recuperação do poder de compra dos trabalhadores. Não se deve esquecer, no entanto, que esse processo vai levando à crescente utilização da capacidade produtiva disponível para atender a aumentos adicionais da demanda, o que é preocupante do ponto de vista do controle da inflação. O quadro exige, evidentemente, uma aceleração dos investimentos para aumentar a capacidade de produzir.
Por isso é particularmente incômoda a constatação, sublinhada por reportagem da edição de ontem desta Folha, de que o governo federal vem se mostrando moroso na concessão de estímulos ao investimento. O caso mais evidente é o do Modermaq, programa de financiamento do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para a aquisição de máquinas e equipamentos. Anunciado em março como peça central da nova política industrial, o Modermaq deveria entrar em operação, segundo o Ministério do Desenvolvimento, poucas semanas após seu lançamento. Lamentavelmente, o governo retardou a regulamentação do programa, ocasionando um atraso de quatro meses. O resultado é que dos R$ 2,5 bilhões disponíveis para empréstimos nada ainda foi liberado.


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