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CLÓVIS ROSSI
Esqueletos
SÃO PAULO - Sai do armário mais um dos já incontáveis esqueletos do
período Fernando Henrique Cardoso, agora na forma de doações para a
sua campanha de 1998 não registradas, como manda a lei, no TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
De novo, vai-se repetir o enredo da
novela. A oposição falará em CPI, o
governo fará o possível e o impossível
para evitá-la e para abafar o escândalo, alguns leitores atacarão a Folha por suposta má vontade para com
FHC, outros leitores atacarão a Folha
por supostamente não ir a fundo nas
investigações, alguns próceres governistas tentarão fazer de Luiz Carlos
Bresser Pereira, o tesoureiro-mor da
campanha, o mordomo de plantão,
culpado de tudo.
Nada disso muda o tamanho do
problema. Primeiro, não há, nesse como nos escândalos anteriores, evidências suficientes para dizer que o
presidente é culpado e do que exatamente é culpado.
Segundo: exatamente porque o governo jamais permitiu apurações que
fornecessem evidências em contrário,
o público fica no direito de:
1 - Achar que, se houvesse investigações sérias, seriam encontradas coisas até mais cabeludas do que as suspeitas até agora surgidas em vários
episódios anteriores.
2 - Achar que os doadores foram
mantidos na clandestinidade porque
fizeram negócios escusos com o governo que financiaram.
3 - Achar que, se sobrou dinheiro,
ele foi desviado, o que só fará chacoalhar, de novo, os ossos do esqueleto
chamado "dossiê Cayman", a suposta conta que o presidente e outros três
tucanos de alta plumagem teriam
nesse paraíso fiscal caribenho.
Tudo somado, fica a nítida sensação de que não é a imprensa que é
"incômoda", como acha FHC. Ela
apenas joga luz sobre esqueletos que
não param de arrombar armários.
Os esqueletos, sim, deveriam incomodar muitíssimo mais.
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