São Paulo, terça-feira, 14 de novembro de 2000

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CLÓVIS ROSSI
Esqueletos

SÃO PAULO - Sai do armário mais um dos já incontáveis esqueletos do período Fernando Henrique Cardoso, agora na forma de doações para a sua campanha de 1998 não registradas, como manda a lei, no TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
De novo, vai-se repetir o enredo da novela. A oposição falará em CPI, o governo fará o possível e o impossível para evitá-la e para abafar o escândalo, alguns leitores atacarão a Folha por suposta má vontade para com FHC, outros leitores atacarão a Folha por supostamente não ir a fundo nas investigações, alguns próceres governistas tentarão fazer de Luiz Carlos Bresser Pereira, o tesoureiro-mor da campanha, o mordomo de plantão, culpado de tudo.
Nada disso muda o tamanho do problema. Primeiro, não há, nesse como nos escândalos anteriores, evidências suficientes para dizer que o presidente é culpado e do que exatamente é culpado.
Segundo: exatamente porque o governo jamais permitiu apurações que fornecessem evidências em contrário, o público fica no direito de:
1 - Achar que, se houvesse investigações sérias, seriam encontradas coisas até mais cabeludas do que as suspeitas até agora surgidas em vários episódios anteriores.
2 - Achar que os doadores foram mantidos na clandestinidade porque fizeram negócios escusos com o governo que financiaram.
3 - Achar que, se sobrou dinheiro, ele foi desviado, o que só fará chacoalhar, de novo, os ossos do esqueleto chamado "dossiê Cayman", a suposta conta que o presidente e outros três tucanos de alta plumagem teriam nesse paraíso fiscal caribenho.
Tudo somado, fica a nítida sensação de que não é a imprensa que é "incômoda", como acha FHC. Ela apenas joga luz sobre esqueletos que não param de arrombar armários.
Os esqueletos, sim, deveriam incomodar muitíssimo mais.


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