São Paulo, terça-feira, 14 de novembro de 2000

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ELIANE CANTANHÊDE
Entranhas

BRASÍLIA - Se depender do Ministério Público, pode até ser, mas há dúvidas. Se depender do Congresso, dos partidos e dos parlamentares, adeus.
Esse é o destino mais provável para a informação publicada pela Folha de que os tucanos jogaram no caixa-dois, e simplesmente esqueceram de declarar, uns R$ 10 milhões da reeleição de FHC. A expectativa é de muita espuma, mas sem virar onda.
Mesmo no PT, no PPS e no PSB, os políticos se perguntam, e perguntam aos outros, quem pode atirar a primeira pedra. Ou batalhar por uma CPI. Afinal, financiamento privado e caixa-dois não são exclusividade do PSDB. São vícios do processo e, portanto, dos partidos e candidatos. Inclusive à Câmara e ao Senado.
A reação, mais do que esperada, não diminui a importância das planilhas obtidas pelos repórteres Andréa Michael e Wladimir Gramacho. Pelo contrário, só aumenta. Mexem e abrem uma velha ferida política.
Empresas e pessoas doam sem querer doar, doam sem querer aparecer, dizem que doam mais e doam menos, ou que doam menos e doam mais. Só há uma explicação: insinuam-se no poder e podem, mais dia, menos dia, cobrar seu preço. Numa obra, num cargo, num favor, numa licitação, num superfaturamento.
No final das contas, são milhões e milhões voando por aí, e é curioso que os homens envolvidos com Eduardo Jorge estejam com a mesma desenvoltura no governo, na campanha e em sociedades privadas.
Tecnicamente, os governistas alegam que a campanha havia previsto no TSE um volume maior de doações. Se não preencheu, dizem uns, foi porque houve créditos anunciados e não confirmados. Se não preencheu, admitem outros, é porque há financiadores que preferem ficar por baixo dos panos, ou das planilhas.
CPI não vai dar. Mas a reportagem expõe o processo político, reabre a discussão sobre o financiamento público de campanha e acerta FHC em pleno vôo para recuperar popularidade. Nas entranhas do poder há de tudo, inclusive traição.


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