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ELIANE CANTANHÊDE
Entranhas
BRASÍLIA - Se depender do Ministério Público, pode até ser, mas há dúvidas. Se depender do Congresso, dos
partidos e dos parlamentares, adeus.
Esse é o destino mais provável para
a informação publicada pela Folha
de que os tucanos jogaram no caixa-dois, e simplesmente esqueceram de
declarar, uns R$ 10 milhões da reeleição de FHC. A expectativa é de muita
espuma, mas sem virar onda.
Mesmo no PT, no PPS e no PSB, os
políticos se perguntam, e perguntam
aos outros, quem pode atirar a primeira pedra. Ou batalhar por uma
CPI. Afinal, financiamento privado e
caixa-dois não são exclusividade do
PSDB. São vícios do processo e, portanto, dos partidos e candidatos. Inclusive à Câmara e ao Senado.
A reação, mais do que esperada,
não diminui a importância das planilhas obtidas pelos repórteres Andréa Michael e Wladimir Gramacho.
Pelo contrário, só aumenta. Mexem e
abrem uma velha ferida política.
Empresas e pessoas doam sem querer doar, doam sem querer aparecer,
dizem que doam mais e doam menos, ou que doam menos e doam
mais. Só há uma explicação: insinuam-se no poder e podem, mais dia,
menos dia, cobrar seu preço. Numa
obra, num cargo, num favor, numa
licitação, num superfaturamento.
No final das contas, são milhões e
milhões voando por aí, e é curioso
que os homens envolvidos com
Eduardo Jorge estejam com a mesma
desenvoltura no governo, na campanha e em sociedades privadas.
Tecnicamente, os governistas alegam que a campanha havia previsto
no TSE um volume maior de doações. Se não preencheu, dizem uns,
foi porque houve créditos anunciados
e não confirmados. Se não preencheu, admitem outros, é porque há financiadores que preferem ficar por
baixo dos panos, ou das planilhas.
CPI não vai dar. Mas a reportagem
expõe o processo político, reabre a
discussão sobre o financiamento público de campanha e acerta FHC em
pleno vôo para recuperar popularidade. Nas entranhas do poder há de
tudo, inclusive traição.
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