São Paulo, segunda, 14 de dezembro de 1998

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O VERME ELEGANTE

A decifração do conjunto completo de genes do verme Caenorhabditis elegans é novidade da ciência que tende a ser menosprezada pelo público, por seu aparente distanciamento da espécie humana e da vida cotidiana. O engano não poderia ser maior. Tal feito, realizado por pesquisadores norte-americanos e britânicos, tem lugar garantido em qualquer relação das maiores descobertas do ano.
O C. elegans se encontra por certo distante do homem, em termos tanto evolutivos como físicos. Apesar de classificado como um verme aparentado com a nefasta lombriga, não se trata porém de um parasita. Constitui-se num animal-modelo, cujas 959 células são hoje conhecidas em minúcia por cientistas. Boa parte do que se sabe sobre envelhecimento e fisiologia do sistema nervoso, por exemplo, é conhecimento obtido graças à facilidade de manipulação desse verme em laboratório.
Conhecer de modo completo seu genoma -a coleção de instruções para construir cada indivíduo da espécie- permite um salto nessas pesquisas. De posse do esquema fundamental do organismo, pesquisadores poderão rastrear cada função vital até seus fundamentos bioquímicos e, apesar da inegável distância evolutiva, obter informações fundamentais para o homem.
Primeiramente, o C. elegans está muito mais próximo do homem do que outros organismos cujos genomas já haviam sido sequenciados. Ademais, a evolução se caracteriza por ser em grande parte conservadora: novas espécies surgidas ao longo de bilhões de anos de vida na Terra preservam muitas das soluções encontradas por seus ancestrais.
Quando for completada a leitura dos 3 bilhões de caracteres do genoma humano, prevista para 2005, não se começará do zero. Com base nos genes encontrados em bactérias, vermes ou insetos, pode-se iniciar por eles a recomposição do plano básico do próprio homem. Decifrada a receita, será então possível dedicar engenho e arte a tentar expurgar dela os ingredientes mais indesejáveis, como doença, velhice e malformações.



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