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O VERME ELEGANTE
A decifração do conjunto completo
de genes do verme Caenorhabditis elegans é novidade da ciência que tende
a ser menosprezada pelo público,
por seu aparente distanciamento da
espécie humana e da vida cotidiana.
O engano não poderia ser maior. Tal
feito, realizado por pesquisadores
norte-americanos e britânicos, tem
lugar garantido em qualquer relação
das maiores descobertas do ano.
O C. elegans se encontra por certo
distante do homem, em termos tanto
evolutivos como físicos. Apesar de
classificado como um verme aparentado com a nefasta lombriga, não se
trata porém de um parasita. Constitui-se num animal-modelo, cujas
959 células são hoje conhecidas em
minúcia por cientistas. Boa parte do
que se sabe sobre envelhecimento e
fisiologia do sistema nervoso, por
exemplo, é conhecimento obtido
graças à facilidade de manipulação
desse verme em laboratório.
Conhecer de modo completo seu
genoma -a coleção de instruções
para construir cada indivíduo da espécie- permite um salto nessas pesquisas. De posse do esquema fundamental do organismo, pesquisadores poderão rastrear cada função vital
até seus fundamentos bioquímicos e,
apesar da inegável distância evolutiva, obter informações fundamentais
para o homem.
Primeiramente, o C. elegans está
muito mais próximo do homem do
que outros organismos cujos genomas já haviam sido sequenciados.
Ademais, a evolução se caracteriza
por ser em grande parte conservadora: novas espécies surgidas ao longo
de bilhões de anos de vida na Terra
preservam muitas das soluções encontradas por seus ancestrais.
Quando for completada a leitura
dos 3 bilhões de caracteres do genoma humano, prevista para 2005, não
se começará do zero. Com base nos
genes encontrados em bactérias, vermes ou insetos, pode-se iniciar por
eles a recomposição do plano básico
do próprio homem. Decifrada a receita, será então possível dedicar engenho e arte a tentar expurgar dela os
ingredientes mais indesejáveis, como doença, velhice e malformações.
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