São Paulo, segunda, 14 de dezembro de 1998

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Dores de consumidor

JOSIAS DE SOUZA


São Paulo - Não há pior asneira do que confundir cartão de crédito com dinheiro. São coisas muito distintas.
A diferença entre o dinheiro e o cartão de crédito é que o primeiro tem perna curta e o segundo às vezes dá o passo maior do que a perna.
O dinheiro sabe o que pode comprar. O cartão de crédito, geralmente, compra muito mais.
Fujo de cartão de crédito como Pinochet do Judiciário espanhol. Uso-os com parcimônia e moderação.
Mas sempre tentam nos empurrar novos cartões. Eles chegam sorrateiramente, pelo correio, sem que ninguém os tenha encomendado.
O fenômeno dos cartões enxeridos virou uma praga. De minha parte, como não os desejo, corto-os ao meio e dou de ombros.
Na última quinta-feira, porém, a coisa passou dos limites. Estava posto em sossego, quando recebi em casa uma inusitada fatura.
Em conluio com o Banco Real, a Mastercard cobrava-me anuidade de R$ 90 por um cartão que não pedi, não recebi e não quero receber.
Pendurei-me ao telefone. Descobri o seguinte: o cartão me foi enviado em junho, para um endereço antigo. Como havia me mudado, não o recebi. Ainda assim, o débito referente à anuidade pingou em minha caixa de correspondência.
Disseram-me no banco para esquecer o assunto. A fatura seria cancelada. Prometeram-me uma explicação, que aguardo com certa ansiedade.
Antigamente, quando se falava em bancos e assaltos, não havia dúvidas quanto à natureza da ação. Ela se processava de fora para dentro. Hoje, como se vê, a tunga também pode vir de dentro para fora.
Já não precisamos sair às ruas para flertar com a insegurança. Fisgam-nos o bolso dentro de nossa própria casa. Se chiamos, desculpam-se. Do contrário... Consumidores, cuidado.



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