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CLÓVIS ROSSI
Independência do BC, a lenda
SÃO PAULO - O presidente do Banco
Central se reunia com o presidente
da República mais ou menos a cada
seis meses. "Não raras vezes, o presidente lhe dirigia sugestões sutis, expressas de maneira cuidadosa, para
que ele reduzisse a taxa de juros, de
modo a estimular o crescimento da
economia".
De que país estamos falando: Brasil, Argentina, Guatemala? Não, estamos falando dos Estados Unidos e da
lendária independência de seu banco
central, o Federal Reserve.
O trecho citado refere-se a Paul
Volcker, então presidente do Fed, e a
Ronald Reagan, então presidente dos
EUA. Está no livro "Maestro", biografia do atual presidente do Fed,
Alan Greenspan, escrita por outra
lenda, o jornalista Bob Woodward,
um dos dois repórteres do caso Watergate, que levou o presidente Richard Nixon à renúncia.
Serve para provar que a independência do BC americano é, no mínimo, meia boca, ao contrário do que
os fundamentalistas de mercado vivem querendo vender como modelo
no Brasil.
Se os mercadocratas não tivessem
abolido o bom senso, a prova nem seria necessária. Quem depende de alguém para ser nomeado e/ou manter-se em um dado cargo faz o possível para agradar quem o nomeia.
É da natureza humana, na China
como na Tanzânia, nos Estados Unidos como no Brasil. Mesmo assim, só
no Brasil pode prosperar a tolice de
que uma eventual intervenção do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva
nas decisões do BC sobre juros significaria um enfraquecimento de Henrique Meirelles ou do ministro Antonio
Palocci Filho ou de ambos.
O contrário é que é verdadeiro: se
Lula deixar o BC fazer alguma barbeiragem, enfraquecem-se ele e seus
subordinados, cujo prestígio não é
próprio, mas emprestado pelo presidente (ou alguém aí acha, seriamente, que Palocci seria ministro da Fazenda em qualquer governo que não
o de Lula?).
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