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São Paulo, sábado, 15 de março de 2003

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CLÓVIS ROSSI

Independência do BC, a lenda

SÃO PAULO - O presidente do Banco Central se reunia com o presidente da República mais ou menos a cada seis meses. "Não raras vezes, o presidente lhe dirigia sugestões sutis, expressas de maneira cuidadosa, para que ele reduzisse a taxa de juros, de modo a estimular o crescimento da economia".
De que país estamos falando: Brasil, Argentina, Guatemala? Não, estamos falando dos Estados Unidos e da lendária independência de seu banco central, o Federal Reserve.
O trecho citado refere-se a Paul Volcker, então presidente do Fed, e a Ronald Reagan, então presidente dos EUA. Está no livro "Maestro", biografia do atual presidente do Fed, Alan Greenspan, escrita por outra lenda, o jornalista Bob Woodward, um dos dois repórteres do caso Watergate, que levou o presidente Richard Nixon à renúncia.
Serve para provar que a independência do BC americano é, no mínimo, meia boca, ao contrário do que os fundamentalistas de mercado vivem querendo vender como modelo no Brasil.
Se os mercadocratas não tivessem abolido o bom senso, a prova nem seria necessária. Quem depende de alguém para ser nomeado e/ou manter-se em um dado cargo faz o possível para agradar quem o nomeia.
É da natureza humana, na China como na Tanzânia, nos Estados Unidos como no Brasil. Mesmo assim, só no Brasil pode prosperar a tolice de que uma eventual intervenção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas decisões do BC sobre juros significaria um enfraquecimento de Henrique Meirelles ou do ministro Antonio Palocci Filho ou de ambos.
O contrário é que é verdadeiro: se Lula deixar o BC fazer alguma barbeiragem, enfraquecem-se ele e seus subordinados, cujo prestígio não é próprio, mas emprestado pelo presidente (ou alguém aí acha, seriamente, que Palocci seria ministro da Fazenda em qualquer governo que não o de Lula?).


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