São Paulo, quinta-feira, 15 de abril de 2004

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O APOIO DE BUSH

Numa significativa mudança de posição, o presidente dos EUA, George W. Bush, manifestou veemente apoio ao plano do primeiro-ministro de Israel, Ariel Sharon, de retirar-se unilateralmente de parte dos territórios palestinos. A aprovação de Bush representa uma importante vitória para Sharon. O presidente norte-americano, que classificou a proposta israelense como "histórica e corajosa", chegou a admitir a manutenção de meia dúzia de assentamentos israelenses na Cisjordânia e a rejeitar o direito de retorno de palestinos que perderam suas terras para Israel.
O alinhamento explícito de Washington a Israel deverá causar revolta entre os palestinos e as populações árabes. Não se pode descartar a possibilidade de que a notícia gere dificuldades adicionais para os EUA no Iraque, onde as tropas americanas já enfrentam levantes populares.
Não será difícil para a mídia árabe noticiar o apoio de Bush a Sharon como um duro golpe contra a causa palestina. Sharon obteve da Casa Branca tudo o que desejava. O beneplácito norte-americano deverá ajudar o premiê a aprovar o plano no âmbito de seu próprio partido, o Likud, que está dividido em relação à proposta. O apoio poderá auxiliar Sharon até com seus problemas judiciais -o premiê enfrenta acusações de corrupção que, num contexto de circunstâncias políticas adversas, poderiam custar-lhe o cargo.
Embora tanto a manutenção de alguns assentamentos israelenses na Cisjordânia como o problema dos refugiados palestinos já estivessem na mesa de negociações antes da eclosão da nova onda de violência, o plano de Sharon procura transformar essas duas questões altamente sensíveis em fatos consumados. Pior, o faz sem nem ao menos ouvir os palestinos. É verdade que Iasser Arafat perdeu diversas oportunidades de avançar nas negociações e agora está terrivelmente enfraquecido. Ainda assim, alijar tão completamente os palestinos do processo decisório é uma temeridade. Num conflito, a paz não pode ser obtida por decreto unilateral. Chegar a ela pressupõe um acerto entre os dois lados.


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