São Paulo, quinta-feira, 15 de abril de 2004

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CLÓVIS ROSSI

Teste para a angústia

BRUXELAS - O índice de preços ao consumidor nos Estados Unidos subiu 0,5% em março. Se se ficar apenas no núcleo da inflação, o índice foi maior 0,4%, o maior aumento em mais de dois anos.
O aumento de preços é tratado, por dez de cada dez analistas, como "catalisador para o Fed (o banco central dos Estados Unidos) começar a elevar as taxas de juros", conforme anunciava o noticiário on-line do jornal britânico "Financial Times".
Um sinal adicional de que os juros devem mesmo subir é dado pelo comportamento da relação euro/dólar. Os indicadores mais recentes de uma evolução favorável da economia dos EUA levaram o euro a cair a sua cotação mais baixa em 2004, na altura de US$ 1,187.
Bom, se, como se prevê, os Estados Unidos começarem a subir os juros, começa igualmente a desaparecer o fascínio com mercados emergentes como o Brasil, que oferecem risco mais elevado, mas, por isso mesmo, pagam mais aos investidores.
Há uma importante corrente de analistas que acha que a melhoria havida na avaliação externa do risco-Brasil se deveu mais ao apetite pelo risco do que por uma real solidez dos números brasileiros.
Ou, posto de outra forma, a política econômica do governo Lula, que seu próprio mentor, o ministro Palocci, chamou de "angustiante", vai passar agora pelo teste externo. O que só tende a aumentar a angústia, como se um desempregado incendiar-se diante dos portões do poder já não fosse angústia suficiente.
Por falar em angústia, a Abong (Associação Brasileira de Organizações Não-Governamentais) discutiu ontem no Rio o governo Lula. Uma frase só basta para evidenciar a angústia desse setor, ex-companheiro de viagem do PT.
"O governo coloca muito mais desempregados na rua com a sua política fiscal e política monetária do que vai conseguir alimentar com o Fome Zero", disparou Fernando José Cardim, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e do Laboratório da Cidadania.


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