São Paulo, quinta-feira, 15 de abril de 2004

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ELIANE CANTANHÊDE

Democracia

BRASÍLIA - Que Waldomiro que nada! O problema do governo agora não é o braço direito do braço direito do presidente da República, mas a legião de insatisfeitos que estão botando as asinhas de fora.
Antes, o noticiário refletia uma crise interna e moral. Agora, os espaços são ocupados com coisas concretas e da vida real do país, muito além das fronteiras de Brasília.
São as balas no Rio, as invasões de terra, as greves de funcionários públicos, as reivindicações salariais dos militares. Tudo perfeitamente ajustado à vida democrática, claro. Mas caracterizando também uma pressão crescente sobre o governo. Num regime presidencialista tão forte como o brasileiro, isso equivale a dizer: sobre o Palácio do Planalto. Ou sobre o presidente da República.
No caso do Rio, repete-se o script de sempre: os governadores Rosinha e Garotinho xingam o governo federal, o ministro da Justiça reage em nome de Lula, volta a discussão sobre a entrada ou não do Exército, o "governador" vem a Brasília. E... nada acontece. Os bandidos continuam se matando e matando aos outros -policiais e civis.
As greves, iniciadas pela PF, agora chegam ao Banco Central, à Receita Federal, vão ganhando corpo e alma, alimentando a insatisfação também nas Forças Armadas. Se os civis reclamam salários, por que os militares deixariam de fazê-lo? Porque a lei e as regras proíbem? Ora, lei e regras.
Os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica fizeram fila para reclamar, um a cada dia, da "frustração" na tropa e nas famílias militares. Ontem foi a vez de o ministro da Defesa, o diplomata José Viegas, baixar uma ordem-unida: em mensagem aos comandados, avisou que só há um interlocutor para a confusão toda -ele próprio.
Enquanto isso, o MST cumpre a promessa de João Pedro Stedile de um "abril vermelho" (diferente do vermelho do Rio, frise-se) e a UDR se articula para pedir cadeia para todo mundo. E o Primeiro de Maio vem aí.
Cada um que conclua o que quiser.


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