|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ELIANE CANTANHÊDE
Democracia
BRASÍLIA - Que Waldomiro que nada! O problema do governo agora
não é o braço direito do braço direito
do presidente da República, mas a legião de insatisfeitos que estão botando as asinhas de fora.
Antes, o noticiário refletia uma crise interna e moral. Agora, os espaços
são ocupados com coisas concretas e
da vida real do país, muito além das
fronteiras de Brasília.
São as balas no Rio, as invasões de
terra, as greves de funcionários públicos, as reivindicações salariais dos
militares. Tudo perfeitamente ajustado à vida democrática, claro. Mas
caracterizando também uma pressão
crescente sobre o governo. Num regime presidencialista tão forte como o
brasileiro, isso equivale a dizer: sobre
o Palácio do Planalto. Ou sobre o presidente da República.
No caso do Rio, repete-se o script de
sempre: os governadores Rosinha e
Garotinho xingam o governo federal,
o ministro da Justiça reage em nome
de Lula, volta a discussão sobre a entrada ou não do Exército, o "governador" vem a Brasília. E... nada
acontece. Os bandidos continuam se
matando e matando aos outros
-policiais e civis.
As greves, iniciadas pela PF, agora
chegam ao Banco Central, à Receita
Federal, vão ganhando corpo e alma,
alimentando a insatisfação também
nas Forças Armadas. Se os civis reclamam salários, por que os militares
deixariam de fazê-lo? Porque a lei e
as regras proíbem? Ora, lei e regras.
Os comandantes do Exército, da
Marinha e da Aeronáutica fizeram
fila para reclamar, um a cada dia, da
"frustração" na tropa e nas famílias
militares. Ontem foi a vez de o ministro da Defesa, o diplomata José Viegas, baixar uma ordem-unida: em
mensagem aos comandados, avisou
que só há um interlocutor para a confusão toda -ele próprio.
Enquanto isso, o MST cumpre a
promessa de João Pedro Stedile de
um "abril vermelho" (diferente do
vermelho do Rio, frise-se) e a UDR se
articula para pedir cadeia para todo
mundo. E o Primeiro de Maio vem aí.
Cada um que conclua o que quiser.
Texto Anterior: Bruxelas - Clóvis Rossi: Teste para a angústia Próximo Texto: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: A voz do povo Índice
|