UOL




São Paulo, quinta-feira, 15 de maio de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CLÓVIS ROSSI

Não tripudie ainda

BUENOS AIRES- Para os não poucos brasileiros que adoram desdenhar dos argentinos, é tentador ver na pantomima encenada desde anteontem pelo ex-presidente Carlos Saúl Menem mais um exemplo da decadência do vizinho, que já foi tão superior ao Brasil.
Vamos com calma, gente. De fato, o que está acontecendo na Argentina é grotesco, mas uma parte substancial da elite empresarial brasileira flertou fortemente com a implantação do modelo e dos modos de Menem, principal ator da ópera-bufa e principal responsável pela crise econômica e social de que a pantomima é apenas um capítulo menor.
Ninguém tem o direito de esquecer que o Brasil também elegeu o seu Menem, na figura de Fernando Collor de Mello, tão prepotente, tão extravagante, tão incompetente e tão cercado de suspeitas as mais variadas como o ex-presidente argentino.
Se Collor ficou só dois anos e pico no poder e Menem, dez, é apenas porque o argentino encontrou um desses operadores ávidos de poder e capazes de fazer qualquer diabólica experiência para nele se manter, chamado Domingo Cavallo.
Ninguém tem também o direito de esquecer que uma fatia importante do empresariado tupiniquim babava na gravata diante de Cavallo, incapaz de enxergar um pouco à frente e de perceber que o modelo de câmbio fixo levava ao abismo.
Tampouco convém esquecer o fato de que os esquemas de poder que sustentaram Menem/Cavallo e que gostariam de ver Menem uma terceira vez na Casa Rosada cercam qualquer governo e tratam de impor a ele a sua agenda. Inclusive o governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
Por fim, não convém esquecer que o virtual presidente eleito Néstor Kirchner diz as mesmas coisas que o PT e Lula diziam antes da conversão à ortodoxia.
Tudo somado, eu só rirei dos argentinos se (e quando) Lula começar a fazer as mudanças prometidas e se Kirchner não as fizer.


Texto Anterior: Editoriais: LÓGICA ILÓGICA

Próximo Texto: Brasília - Eliane Cantanhêde: Lula mais, governo menos
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.