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CLÓVIS ROSSI
Não tripudie ainda
BUENOS AIRES- Para os não poucos brasileiros que adoram desdenhar
dos argentinos, é tentador ver na
pantomima encenada desde anteontem pelo ex-presidente Carlos Saúl
Menem mais um exemplo da decadência do vizinho, que já foi tão superior ao Brasil.
Vamos com calma, gente. De fato, o
que está acontecendo na Argentina é
grotesco, mas uma parte substancial
da elite empresarial brasileira flertou
fortemente com a implantação do
modelo e dos modos de Menem, principal ator da ópera-bufa e principal
responsável pela crise econômica e
social de que a pantomima é apenas
um capítulo menor.
Ninguém tem o direito de esquecer
que o Brasil também elegeu o seu Menem, na figura de Fernando Collor
de Mello, tão prepotente, tão extravagante, tão incompetente e tão cercado de suspeitas as mais variadas como o ex-presidente argentino.
Se Collor ficou só dois anos e pico
no poder e Menem, dez, é apenas porque o argentino encontrou um desses
operadores ávidos de poder e capazes
de fazer qualquer diabólica experiência para nele se manter, chamado
Domingo Cavallo.
Ninguém tem também o direito de
esquecer que uma fatia importante
do empresariado tupiniquim babava
na gravata diante de Cavallo, incapaz de enxergar um pouco à frente e
de perceber que o modelo de câmbio
fixo levava ao abismo.
Tampouco convém esquecer o fato
de que os esquemas de poder que sustentaram Menem/Cavallo e que gostariam de ver Menem uma terceira
vez na Casa Rosada cercam qualquer
governo e tratam de impor a ele a sua
agenda. Inclusive o governo de Luiz
Inácio Lula da Silva.
Por fim, não convém esquecer que o
virtual presidente eleito Néstor
Kirchner diz as mesmas coisas que o
PT e Lula diziam antes da conversão
à ortodoxia.
Tudo somado, eu só rirei dos argentinos se (e quando) Lula começar a
fazer as mudanças prometidas e se
Kirchner não as fizer.
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