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FERNANDO RODRIGUES
Incapacidade gerencial
BRASÍLIA - O repórter estrangeiro lamentou o efeito de seu texto sobre os
hábitos etílicos do presidente. O "New York Times" recusou-se a fazer um
pedido de desculpas com todas as letras. O Planalto vendeu como uma
retratação. Lula revogou a expulsão.
Debelou-se a crise -mas não a incapacidade gerencial do governo.
O episódio explicitou mais uma vez
a fragilidade da administração petista em momentos de crise, a falta de
sofisticação intelectual para tomar
certas decisões e o isolamento do presidente do mundo real.
Qualquer aprendiz de assessor de
comunicação saberia intuir como seria negativa a reação internacional.
É possível que Lula não tenha como
avaliar esse tipo de cenário. OK. Um
presidente da República não precisa
entender de tudo. Basta que tenha
assessores capacitados para tal.
Aí está. Há gente no Planalto com
expertise para prever catástrofes midiáticas. Mas esses assessores revelaram-se inúteis. Por quê?
Duas hipóteses: 1) não têm acesso
ao presidente para influenciá-lo
quando necessário; 2) os que se aproximam de Lula aparentemente não
têm coragem para dizer com a firmeza requerida qual o caminho sensato
a seguir -com a exceção, neste caso,
de Márcio Thomaz Bastos, que atuou
com firmeza no "pós-caos".
Quem exatamente tem influência
perene dentro do governo, formação
política e intelectual razoável -sem
contar os românticos de Cuba- e
pode falar o que pensa ao presidente?
Não se sabe. O que acontecerá quando a administração petista enfrentar
uma crise externa para valer?
A desconexão da realidade faz o
presidente afirmar -em coro com
Antonio Palocci- que "no Brasil estamos totalmente tranqüilos" a respeito da turbulência econômica externa. Repete a avaliação em público
e em privado. Parece tomado pela
síndrome do auto-engano.
Nada disso é o fim do mundo. É só o
retrato do lulismo federal -um presidente auto-isolado, um governo
frágil e pouca ou nenhuma perspectiva de melhora gerencial.
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