São Paulo, sábado, 15 de maio de 2004

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FERNANDO RODRIGUES

Incapacidade gerencial

BRASÍLIA - O repórter estrangeiro lamentou o efeito de seu texto sobre os hábitos etílicos do presidente. O "New York Times" recusou-se a fazer um pedido de desculpas com todas as letras. O Planalto vendeu como uma retratação. Lula revogou a expulsão. Debelou-se a crise -mas não a incapacidade gerencial do governo.
O episódio explicitou mais uma vez a fragilidade da administração petista em momentos de crise, a falta de sofisticação intelectual para tomar certas decisões e o isolamento do presidente do mundo real.
Qualquer aprendiz de assessor de comunicação saberia intuir como seria negativa a reação internacional. É possível que Lula não tenha como avaliar esse tipo de cenário. OK. Um presidente da República não precisa entender de tudo. Basta que tenha assessores capacitados para tal.
Aí está. Há gente no Planalto com expertise para prever catástrofes midiáticas. Mas esses assessores revelaram-se inúteis. Por quê?
Duas hipóteses: 1) não têm acesso ao presidente para influenciá-lo quando necessário; 2) os que se aproximam de Lula aparentemente não têm coragem para dizer com a firmeza requerida qual o caminho sensato a seguir -com a exceção, neste caso, de Márcio Thomaz Bastos, que atuou com firmeza no "pós-caos".
Quem exatamente tem influência perene dentro do governo, formação política e intelectual razoável -sem contar os românticos de Cuba- e pode falar o que pensa ao presidente? Não se sabe. O que acontecerá quando a administração petista enfrentar uma crise externa para valer?
A desconexão da realidade faz o presidente afirmar -em coro com Antonio Palocci- que "no Brasil estamos totalmente tranqüilos" a respeito da turbulência econômica externa. Repete a avaliação em público e em privado. Parece tomado pela síndrome do auto-engano.
Nada disso é o fim do mundo. É só o retrato do lulismo federal -um presidente auto-isolado, um governo frágil e pouca ou nenhuma perspectiva de melhora gerencial.


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