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CARLOS HEITOR CONY
O vício e a virtude
RIO DE JANEIRO - A derrota do governo na questão dos bingos está sendo interpretada, pelos beneficiários e admiradores do Planalto, como uma
vitória do vício contra a virtude. Não
é bem assim. Sem dúvida houve uma
formidável pressão dos interessados
pela rejeição da medida proposta pelo governo e, entre os interessados,
milhares de funcionários que engrossariam a dramática estatística dos
desempregados.
Do ponto de vista político, foi apenas uma derrota do mais incompetente, o próprio governo, que mantém uma base de sustentação fisiológica no Congresso.
Do ponto de vista social, foi a vitória do bom senso. A proibição dos jogos de azar, que vem do governo Dutra (1946-1951), expressa a hipocrisia
de uma sociedade puritana que dá
régua e compasso às elites dirigentes
de países subdesenvolvidos.
No caso específico dos bingos, a atitude do governo revelou-se funestamente hipócrita e tardia. Foi provocada pelo escândalo Waldomiro, um
escândalo que pode até ser considerado menor. Não fosse divulgada a corrupção de um assessor do Planalto,
recebendo propina de um contraventor, nada teria sido feito. O crime não
foi praticado pela pessoa jurídica do
bingo, mas por pessoa física incorporada ao esquema de poder.
No último fim de semana, a cúpula
do governo ficou reunida até altas
horas estudando uma nova medida
para fechar os bingos, como se isso
fosse um problema prioritário de um
país estagnado economicamente, injusto socialmente, com taxas vergonhosas de desemprego, de concentração de renda e também uma vergonhosa política salarial.
O que menos interessa na derrota
do governo é a própria derrota política. O mais lamentável é que o governo exibiu uma falta de rumo, trancando portas depois do assalto e nem
sabendo como se tranca realmente
uma porta.
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