São Paulo, sábado, 15 de junho de 2002

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CLÓVIS ROSSI

O terror e o colchão

SÃO PAULO - Partiu de Anthony Garotinho, o candidato do PSB à Presidência, a observação talvez mais sensata sobre o pacote "calmante" editado anteontem pelo governo. Garotinho sugere que o dinheiro extra a ser sacado do FMI (Fundo Monetário Internacional) fique para o futuro presidente utilizar nos primeiros três meses de sua gestão.
Proposta sensata porque:
1 - A situação já era complicada antes de o Brasil ter-se tornado a "bola da vez", para usar expressão do jornalista Celso Pinto, que, entre mil qualidades, tem também a de ser avesso ao sensacionalismo.
2 - Nos últimos dez ou 15 dias de frenesi nos mercados, a situação só fez piorar -e muito.
3 - A situação vai piorar mais se estiver correta a avaliação mais difundida após o pacote, segundo a qual se trata apenas de aspirina ou paliativo.
4 - Faz todo o sentido, do ponto de vista lógico, cobrar clareza nas propostas do PT, desde que se aplique a mesma lógica às propostas de todos, inclusive às de José Serra.
Mas, do ponto de vista prático, não adianta o PT ser mais claro que água pura. Ainda que Lula se comprometesse em cartório a privatizar até o Palácio do Planalto, os tais mercados continuariam "votando" contra ele, como já deixou claro George Soros, entre outros peritos.
Como Lula tende a continuar liderando as pesquisas até, pelo menos, a véspera da eleição, a turbulência persistirá até, digamos, outubro.
5 - Se Lula for, como tudo parece indicar, para o segundo turno, a eletricidade financeira se arrastará até o fim de outubro.
6 - Se Lula ganhar, o terrorismo financeiro tenderá a tomar proporções de ataque às torres gêmeas. Se Serra for para o segundo turno e ganhar, não haverá, de todo modo, tempo suficiente até a posse para desfazer o estrago feito.
Logo um colchão de US$ 10 bilhões, como defende Garotinho, tende a ser essencial no início da próxima administração, seja qual for o eleito. Essencial para o vencedor e também para o país.



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