CARLOS HEITOR CONY


Rio de Janeiro - Dos 160 milhões ou 170 milhões de brasileiros, acho que sou o único que ainda se preocupa em saber onde estão os ossos de Dana de Tefé. Coisa de 40 anos, mataram a mulher, todo mundo sabia quem era o assassino, mas o corpo dela não foi encontrado. Logo, não houve crime nem criminoso. Faltou a tal prova nos autos, a prova provada, nada menos do que o cadáver da vítima.
Creio que hoje temos uma pista. Tudo de ruim, de escandaloso e de suspeito tem como origem o Planalto. Até mesmo o juiz Nicolau, que aparentemente atuava apenas em São Paulo, era freguês de caderno de um dos telefones do palácio presidencial.
No depoimento de Andrade Vieira na CPI do sistema financeiro, não houve nenhum cadáver visível para ser anexado aos autos. Mas houve um episódio revelador, do qual, também aparentemente, não ousou tirar conclusões.
Disse ele, ou melhor, ele lembrou o que foi noticiado na ocasião. Quando Itamar nomeou FHC ministro da Fazenda, e foi montada a equipe que o Elio Gaspari chama de ""ekipe", Andrade Vieira apresentou, como banqueiro e ministro do governo, um plano ao seu amigo e novo colega de ministério.
Um plano que talvez não fosse bom, mas a disputa pelo poder dentro do sistema financeiro fez do então dono do segundo maior banco do país um inimigo jurado da turma que terminaria, como sabemos, em cima do muro, com suspeitas de incompetência ou corrupção.
A partir desse momento, o Bamerindus despencou até a liquidação. E o próprio Andrade Vieira perdeu acesso àquele ninho de cobras que se instalou no palácio, uns comendo os outros, e todos procurando comer o que podem.
Não tenho elementos nem vontade para defender o ex-ministro. Mas o trabalho feito contra ele, no eixo Banco Central-Planalto, foi coisa de profissionais. Procurando bem, a ossada de Dana de Tefé talvez esteja lá.


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