São Paulo, quinta-feira, 15 de agosto de 2002

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RECEITA PARA A GUERRA

É natural que as populações de superpotências militares aprovem a guerra. Quando um país destina parte substancial de seu Orçamento para as Forças Armadas, automaticamente prepara os espíritos dos cidadãos para aceitar conflitos. Mesmo assim, é surpreendente a notícia de que 69% dos norte-americanos apóiam uma ação contra o Iraque. É espantoso que tão expressiva maioria esteja de acordo com essa guerra num momento em que até países aliados dos EUA a rejeitam.
A pesquisa "The Washington Post"/ABC News, que apurou os 69% de aprovação ao ataque, traz pistas sobre as razões que levam os americanos a essa posição. Para 79% dos entrevistados, o Iraque é uma ameaça. É verdade. Saddam Hussein produz e estoca armas de destruição em massa, como artefatos químicos e biológicos. Como os EUA viveram há menos de um ano a terrível experiência de sofrer um atentado terrorista, é fácil compreender que tenham o desejo de proteger-se.
É evidente, também, que Washington tem interesse no petróleo iraquiano. Se o governo Bush conseguisse instalar um regime amigo em Bagdá, diminuiria sua dependência em relação à Arábia Saudita, hoje vista por muitos analistas como um problema. Há até quem afirme que o jovem Bush deseja terminar a obra de seu pai, que foi à guerra contra Saddam em 1991, mas não o derrubou.
Todas essas considerações fazem sentido e parecem contribuir em algum grau para o clima de tensão entre Washington e Bagdá. O fato é que uma guerra agora provavelmente só ajudaria a piorar a já delicada situação da economia global. Saddam Hussein é, sem dúvida, uma ameaça, mas não é uma ameaça maior do que era dois ou três anos atrás.
O bom senso exige moderação. Mas o risco de Bush, considerado por muitos como despreparado para o cargo, lançar-se numa aventura inconsequente é terrivelmente real.


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