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RECEITA PARA A GUERRA
É natural que as populações
de superpotências militares
aprovem a guerra. Quando um país
destina parte substancial de seu Orçamento para as Forças Armadas,
automaticamente prepara os espíritos dos cidadãos para aceitar conflitos. Mesmo assim, é surpreendente a
notícia de que 69% dos norte-americanos apóiam uma ação contra o Iraque. É espantoso que tão expressiva
maioria esteja de acordo com essa
guerra num momento em que até
países aliados dos EUA a rejeitam.
A pesquisa "The Washington
Post"/ABC News, que apurou os
69% de aprovação ao ataque, traz
pistas sobre as razões que levam os
americanos a essa posição. Para 79%
dos entrevistados, o Iraque é uma
ameaça. É verdade. Saddam Hussein
produz e estoca armas de destruição
em massa, como artefatos químicos
e biológicos. Como os EUA viveram
há menos de um ano a terrível experiência de sofrer um atentado terrorista, é fácil compreender que tenham o desejo de proteger-se.
É evidente, também, que Washington tem interesse no petróleo iraquiano. Se o governo Bush conseguisse instalar um regime amigo em
Bagdá, diminuiria sua dependência
em relação à Arábia Saudita, hoje vista por muitos analistas como um
problema. Há até quem afirme que o
jovem Bush deseja terminar a obra de
seu pai, que foi à guerra contra Saddam em 1991, mas não o derrubou.
Todas essas considerações fazem
sentido e parecem contribuir em algum grau para o clima de tensão entre Washington e Bagdá. O fato é que
uma guerra agora provavelmente só
ajudaria a piorar a já delicada situação da economia global. Saddam
Hussein é, sem dúvida, uma ameaça,
mas não é uma ameaça maior do que
era dois ou três anos atrás.
O bom senso exige moderação.
Mas o risco de Bush, considerado
por muitos como despreparado para
o cargo, lançar-se numa aventura inconsequente é terrivelmente real.
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