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CLÓVIS ROSSI
Responsabilidades
SÃO PAULO - Ao anunciar os encontros com os presidenciáveis, marcados para segunda-feira, o presidente
Fernando Henrique Cardoso disse
que, "agora, os candidatos têm de assumir suas responsabilidades".
Tudo bem. Não apenas os candidatos mas todas as pessoas sérias devem
assumir suas responsabilidades, a começar, por falar nisso, do próprio
presidente da República.
É chantagem culpar os candidatos,
por exemplo, pela crise financeira em
curso. Ou, na outra ponta da eleição,
culpar os eleitores por estarem até
agora preferindo dois nomes de oposição para disputarem um eventual
segundo turno.
A esse respeito, é exemplar o texto
da revista britânica "The Economist", ardorosa fã do presidente Fernando Henrique, quando comentava, em maio, a necessidade de antecipar a eleição argentina.
O título basta para dar o tom da
história: "Deixem os eleitores escolherem seu veneno". Democracia é isso:
o direito de escolher o veneno ou o
néctar que se quer provar, agrade ou
não ao mercado.
Seria obviamente ingênuo ignorar
que a incerteza inevitável em períodos eleitorais tem lá o seu papel na
crise. Mas o fato é que a incerteza só
consegue virar crise quando há ambiente para isso.
É o que ocorre no Brasil -pelos fatores expostos à exaustão nos jornais,
dia sim, o outro também. E tais fatores foram criados, todos, pelo governo
Fernando Henrique Cardoso.
Os candidatos só poderão assumir
responsabilidades pelo que fizerem a
partir de 1º de janeiro (ou 6 de janeiro, se mudar a data da posse).
Pedir-lhes, por exemplo, moderação nas palavras só para não assustar
mais os tais de mercados, é pedir-lhes
que abdiquem do sagrado direito, pelos cânones da democracia, de pedir
votos usando as palavras que lhes parecerem mais capazes de seduzir o
público.
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