|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CARLOS HEITOR CONY
Pós-neo-realismo
GRAMADO - Há 30 anos, Gramado realiza o seu festival de cinema. Disparado, é o mais badalado e o mais
eficiente dos festivais realizados no
Brasil. Neste ano, os organizadores
cometeram um erro (ninguém é perfeito) convidando-me para integrar o
júri que julgará os longas-metragens.
Estou aqui para isso mesmo.
Não sou da área, eventualmente
dou palpites sobre cinema e, para falar a verdade, há muito me afastei
das novidades no setor, atendo-me a
alguns clássicos e a um ou outro filme
que me marcou por motivo pessoal.
Dos filmes em competição, vi dois
nacionais, um chileno e um argentino. Média boa, com qualidades e defeitos equivalentes. Espantou-me o
argentino "O Filho da Noiva". Um
crítico dos velhos tempos diria que o
filme é alienado: um homem que ajuda o pai (parecidíssimo com o Clóvis
Rossi, suspeito que seja o próprio Clóvis descolando algum por conta do
Mercosul) a casar-se com a mãe, que
mora num asilo para loucos.
Nenhuma referência à chamada
realidade nacional, que faz a Argentina estar diariamente no noticiário
internacional. Há exageros na história. O sujeito tem dois infartos, fica
órfão na tempestade, discute direito
canônico com um padre, mas tudo
termina bem, há emoção e comédia
em doses iguais e uma estupenda
atuação do sósia do Clóvis Rossi.
Aliás, os dois filmes brasileiros
("Querido Estranho" e "Dois Perdidos Numa Noite Suja") são perfeitos
em termos de atuação, boa iluminação e som como sempre problemático, mas dando para o gasto.
Nota-se uma preferência pelo tema
da violência, física ou psicológica.
Nem chega a ser uma violência policial, criminosa. É a violência banalizada pelo nosso dia-a-dia -e, nesse
particular, os cinemas latino e brasileiro podem ser considerados pós-neo-realistas. O que será isso? Sinceramente, não sei.
Texto Anterior: Brasília - Eliane Cantanhêde: O chato de galocha Próximo Texto: Otavio Frias Filho: Ciro x Lula Índice
|