São Paulo, quinta-feira, 15 de agosto de 2002

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CARLOS HEITOR CONY

Pós-neo-realismo

GRAMADO - Há 30 anos, Gramado realiza o seu festival de cinema. Disparado, é o mais badalado e o mais eficiente dos festivais realizados no Brasil. Neste ano, os organizadores cometeram um erro (ninguém é perfeito) convidando-me para integrar o júri que julgará os longas-metragens. Estou aqui para isso mesmo.
Não sou da área, eventualmente dou palpites sobre cinema e, para falar a verdade, há muito me afastei das novidades no setor, atendo-me a alguns clássicos e a um ou outro filme que me marcou por motivo pessoal.
Dos filmes em competição, vi dois nacionais, um chileno e um argentino. Média boa, com qualidades e defeitos equivalentes. Espantou-me o argentino "O Filho da Noiva". Um crítico dos velhos tempos diria que o filme é alienado: um homem que ajuda o pai (parecidíssimo com o Clóvis Rossi, suspeito que seja o próprio Clóvis descolando algum por conta do Mercosul) a casar-se com a mãe, que mora num asilo para loucos.
Nenhuma referência à chamada realidade nacional, que faz a Argentina estar diariamente no noticiário internacional. Há exageros na história. O sujeito tem dois infartos, fica órfão na tempestade, discute direito canônico com um padre, mas tudo termina bem, há emoção e comédia em doses iguais e uma estupenda atuação do sósia do Clóvis Rossi.
Aliás, os dois filmes brasileiros ("Querido Estranho" e "Dois Perdidos Numa Noite Suja") são perfeitos em termos de atuação, boa iluminação e som como sempre problemático, mas dando para o gasto.
Nota-se uma preferência pelo tema da violência, física ou psicológica. Nem chega a ser uma violência policial, criminosa. É a violência banalizada pelo nosso dia-a-dia -e, nesse particular, os cinemas latino e brasileiro podem ser considerados pós-neo-realistas. O que será isso? Sinceramente, não sei.


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