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ELIANE CANTANHÊDE
Dirceu fala
BRASÍLIA - O chefe da Casa Civil, José Dirceu, ri quando falam ou escrevem sobre disputas acirradas no governo quanto ao ritmo e ao grau de
flexibilização da política de juros e de
superávits altíssimos.
"Isso é coisa de quem não entende
nada de PT. No PT, nós discutimos
tudo e decidimos em conjunto", diz
ele, vez ou outra apontado como antagonista de Palocci, da Fazenda.
Um, o político, estaria pressionando por uma queda rápida dos juros e
bons refrescos para as empresas. Outro, Palocci, continuaria teimosamente agarrado à ortodoxia -ou à
"ditadura do FMI", como dizem até
no próprio PT.
"Nós fizemos uma blindagem do
Palocci. Engana-se quem pensa que a
política é só dele, que ele está sozinho.
A política é nossa, do governo, do presidente", acrescenta Dirceu.
Na noite de quarta-feira, num jantar de líderes e jornalistas, o ministro
também desautorizou a versão de
que o governo estaria desistindo de
uma reforma tributária mais ousada: "Nós vamos fazer, vocês vão ver".
Ontem, depois de tomar café da
manhã com o deputado Delfim Netto
(PP-SP), a conversa parecia um tanto
diferente. Ou é tudo um jogo de cena
para garantir no Senado uma reforma mais ampla, ou Delfim seduziu o
governo com a idéia de etapas: agora,
prorrogação da CPMF e da DRU
(que permite ao governo usar 20% do
Orçamento como bem quiser); na seguinte, a tal desoneração do setor
produtivo; só mais adiante a mudança do ICMS e o combate à guerra fiscal entre os Estados.
Segundo Dirceu, não há intenção
de aumentar o valor da Cide (a contribuição sobre a gasolina). Quando
ministros falam em "aumentar a arrecadação", leia-se que a economia
vai crescer, empresas e cidadãos vão
rodar muito, consumir muita gasolina e pagar muita Cide. Ah, bom!
Dirceu parece bem-humorado e otimista, à vontade entre líderes do governo e da oposição. Quem conversa
com ele sai com a sensação de que tudo está às mil maravilhas. Até ler os
jornais do dia seguinte.
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