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CLÓVIS ROSSI
A Alca-da-mãe-joana
SÃO PAULO - Nos últimos dias, fontes
do governo, escondidas no anonimato, têm vazado informações que produzem muito calor (o das fofocas) e
nenhuma luz sobre a posição brasileira na batalha da Área de Livre Comércio das Américas.
Domingo, por meio do "Estadão",
tais fontes anunciaram a substituição dos negociadores brasileiros, mas
só mencionaram um nome, o do vice-chanceler, embaixador Samuel Pinheiro Guimarães.
Guimarães não é nem nunca foi negociador na Alca ou em qualquer dos
dois outros tabuleiros comerciais em
que o Brasil está envolvido.
Além disso, os negociadores não determinam a linha negociadora.
Quem o faz é o negociador-chefe, no
caso o chanceler Celso Amorim. Ou
havia ali um tiro por elevação oculto
contra Amorim, ou mudar os negociadores sem mudar o chefe não muda coisa alguma.
Ontem, na Folha, as tais fontes disseram que o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva vai "amainar" o discurso sobre a Alca. Bonito, mas totalmente inócuo.
A Alca passou da fase dos discursos.
Está na das propostas. Há duas sobre
a mesa, a "light"(do Mercosul) e a
"abrangente" (dos Estados Unidos).
São as duas que estarão em discussão
em Miami, em conferência ministerial potencialmente decisiva.
Mudar o discurso sem mudar a
proposta brasileira não muda nada.
O vazamento, portanto, produz calor, mas não muda a essência das coisas, a menos que, outra vez, o alvo
oculto por elevação seja a proposta e,
por extensão, o chanceler Celso Amorim.
O presidente tem todo o direito de
mudar o discurso, a proposta, os negociadores, todos os ministros, os móveis do palácio. Só não tem o direito
de permitir, pelo silêncio, que seu governo continue sendo a casa-da-mãe-joana nessa matéria.
A Alca não é joguinho de truco, como já disse com o brilho habitual, na
semana passada, o jornalista Sérgio
Leo ("Valor Econômico").
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