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São Paulo, quarta-feira, 15 de outubro de 2003

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CLÓVIS ROSSI

A Alca-da-mãe-joana

SÃO PAULO - Nos últimos dias, fontes do governo, escondidas no anonimato, têm vazado informações que produzem muito calor (o das fofocas) e nenhuma luz sobre a posição brasileira na batalha da Área de Livre Comércio das Américas.
Domingo, por meio do "Estadão", tais fontes anunciaram a substituição dos negociadores brasileiros, mas só mencionaram um nome, o do vice-chanceler, embaixador Samuel Pinheiro Guimarães.
Guimarães não é nem nunca foi negociador na Alca ou em qualquer dos dois outros tabuleiros comerciais em que o Brasil está envolvido.
Além disso, os negociadores não determinam a linha negociadora. Quem o faz é o negociador-chefe, no caso o chanceler Celso Amorim. Ou havia ali um tiro por elevação oculto contra Amorim, ou mudar os negociadores sem mudar o chefe não muda coisa alguma.
Ontem, na Folha, as tais fontes disseram que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai "amainar" o discurso sobre a Alca. Bonito, mas totalmente inócuo.
A Alca passou da fase dos discursos. Está na das propostas. Há duas sobre a mesa, a "light"(do Mercosul) e a "abrangente" (dos Estados Unidos). São as duas que estarão em discussão em Miami, em conferência ministerial potencialmente decisiva.
Mudar o discurso sem mudar a proposta brasileira não muda nada. O vazamento, portanto, produz calor, mas não muda a essência das coisas, a menos que, outra vez, o alvo oculto por elevação seja a proposta e, por extensão, o chanceler Celso Amorim.
O presidente tem todo o direito de mudar o discurso, a proposta, os negociadores, todos os ministros, os móveis do palácio. Só não tem o direito de permitir, pelo silêncio, que seu governo continue sendo a casa-da-mãe-joana nessa matéria.
A Alca não é joguinho de truco, como já disse com o brilho habitual, na semana passada, o jornalista Sérgio Leo ("Valor Econômico").


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